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O amor à literatura e o ensaio para a luta social em 'Martin Éden' | 2020

NOTA 7.5

Por Rogério Machado 

O jovem, porém experiente documentarista italiano Pietro Marcello em seu segundo longa de ficção, ganhou grande destaque com 'Martin Éden', filme selecionado para a mostra competitiva  no Festival de Veneza em 2019, que deu o prêmio ao protagonista Luca Marinelli (figura requisitada no cinema italiano), de melhor atuação. A produção é uma adaptação do romance homônimo de Jack London, um escritor e ativista social, cuja história muito se assemelha a de seu herói no longa que chegou no último fim de semana em circuito comercial. 


Na história conheceremos o personagem título, Martin Éden (Luca Marinelli), um jovem napolitano de origem humilde, que mora com a irmã, também pobre, casada com um grosseirão. Vive de trabalhos braçais, seja como pescador ou embarcadiço. Um dia, salva um jovem no porto. Agradecida, a família, rica e aristocrática do rapaz recebe Éden em sua mansão. Mas incomoda-se com seus gestos rudes, seus hábitos sem nenhum refinamento. A jovem Elena (Jessica Cressy), irmã do jovem a quem Éden socorrera, vai apaixonar-se pelo marinheiro e será correspondida. Inserido neste novo mundo, Martin Éden mergulhará na leitura de livros emprestados por Elena ou adquiridos em sebos. E começará a escrever sem parar. Ao tentar publicar seus contos e romances, receberá dezenas de negativas de revistas literárias e editoras.

Para agravar as angústias do aspirante a escritor, a família de Elena não desdenha apenas dos modos rudes e da origem social do namorado da filha. Vê com igual desprezo os sonhos literários do rapaz. Desesperado, sem dinheiro, ele começa a questionar o mercado editorial, a sociedade burguesa, que o discrimina, e até a duvidar de seu potencial criador. 

É quando na segunda parte surge uma espécie de voz da consciência política de Éden, na persona de Russ Brissenden (Carlo Cecchi), um misterioso senhor que o coloca dentro de um contexto político-socialista. Até então, o que seguia como uma romance em potencial, ganha tom político, e os olhos do inocente herói romântico se abrem e vêem que o mundo não se resume somente em perseguir sonhos, que existem dois lados (ou quem sabe mais?), e que um não funcionava sem o outro. Socialistas ou capitalistas? Martin Éden parecia não se inserir em um lado ou outro, e talvez para o crescimento da sua arte, penderia para ambos. 

O longa de Pietro Marcello, ambientado nos anos 30, tem uma fotografia com efeito granulado e cores que se alternam entre tons acentuados e pastéis; um deslumbre. Além de uma montagem muito inovadora para o gênero. Acaba não sendo um grande filme por se arrastar muito na primeira parte, mas acaba ganhando pontos pela vibrante segunda metade. 


Vale Ver !








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