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'O Poço' e sua alegoria brutal da pandemia | 2020

NOTA 10

Por Karina Massud @cinemassud 

Em tempos de isolamento social surgem mais questões existencialistas do que em circunstâncias normais. O que é essencial pra vivermos: Comida? Contato humano? Liberdade? Lazer? As respostas são muitas mas o fato é que, depois de vivermos um quase apocalipse – uma situação nunca antes vivida - causado pelo coronavírus, a humanidade vai mudar, repensar, refletir e ressignificar valores e conceitos. É nossa chance de mudar.


“O Poço”, filme que estreou na Netflix no início da quarentena e está rendendo o maior falatório, apesar de ser uma produção de 2019 tem tudo a ver com a crise pela qual passamos. O roteiro é simples mas bem escrito, se passa num futuro distópico onde uma prisão vertical  com mais de 100 andares mantém duas pessoas em cada nível, com a comida - um verdadeiro banquete - sendo distribuída de cima para baixo, daí que quem está no andar mais alto come feito rei e quem está embaixo precisa lutar para sobreviver de migalhas, pois ninguém raciona ou pensa nos demais... é um salve-se quem puder! 

A produção, primeira do diretor Galder Gastelo-Urrutia, remete ao filme ”O Expresso do Amanhã” (2013) do diretor Bong Joon-Ho, que também é uma metáfora brilhante da sociedade e luta de classes. E é principalmente  uma versão da “alegoria das colheres longas”: ninguém passará fome se as pessoas aprenderem a alimentar umas as outras e não pensarem só na própria fome (se ficou curioso procure mais sobre essa fábula no Google que é um pouco extensa pra reproduzir aqui). Não se espante se notar semelhança com o desespero das pessoas comprando tudo o que podem em supermercados e farmácias, deixando a prateleiras vazias.

Um misto de horror gore , ficção e thriller psicológico dos bons, as cenas chocam no sobe e desce da plataforma, com muito sangue, facas e gritos em um ritmo  que atordoa e nos deixa grudado na tela. A paleta de cores é perfeita: vermelhos em cenas de inferno absoluto e tensão, alternando com branco, cinzas e beges em sequências de mais “calmaria”, se é que isso é possível naquele ambiente. O som é assustador, os silêncios e barulhos arrepiam e mantem no nível de suspense altíssimo, nos fazendo imergir ainda mais na trama.

As metáforas e suas interpretações são muitas, cada um usa de sua vivência para ler a trama. Luta de classes seria a camada mais superficial e que reflete a sociedade de ricos comendo pobres, nesse caso literalmente. Egoísmo x solidariedade / coletivo x individual: sobreviver é instintivo e em situações extremas as pessoas com escrúpulos e limites podem se tornar selvagens. Praticamente um estudo de sociologia.

“O Poço” deixa mais perguntas que respostas com um final impactante e aberto a horas de reflexão. Um filme que me nocauteou na mesma medida que me encantou.


Super Vale Ver !




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