'Sergio', nova produção Netflix, desperdiça a chance de construir um filme grandioso | 2020
NOTA 5.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
A tragédia da Guerra no Iraque tornou ainda mais evidente o protagonismo humanitário de Sergio Vieira de Mello. O diplomata brasileiro, que morreu em 2003 num bombardeio em Bagdá à sede da ONU, prestigiava de reconhecimento internacional e desde 2002 assumira o cargo de Alto Comissário para os Direitos Humanos. Com 34 anos de experiência na ONU, é previsível que o diretor do longa, Greg Barker, pinçasse apenas alguns elementos como amostragem do vasto repertório. A escolha recaiu em episódios mais recentes que de alguma forma se conectavam como subsídio comportamental para o Sergio que atuava no Iraque. Infelizmente, a grandiosidade do diplomata não encontrou paralelo no cinema.
É notável o esforço de humanizar a figura de um funcionário de hierarquia elevada numa das principais organizações internacionais de engajamento humanitário. Objetivo pertinente, mas execução falha. Sergio era conhecido pela qualidade do tato humano e o talento diplomático em ambientes adversos. Greg Barker não deixa de abordar esses aspectos, mas para esse fim, o tempo investido é racionado e desenhado de forma grosseira. O protagonista não precisa ser lapidado numa moldura de herói, mas delineamentos paralelos como a ausência paterna e o insistente esforço de construir uma figura galanteadora são inseridas de forma disfuncionais. Para o primeiro deslize, do pai distante, emprega-se poucos e relapsos minutos de apenas um atrito não empático com os filhos. O segundo, que é mais grave, abocanha uma parcela desmedida da obra a ponto de levantar o questionamento se estamos diante da biografia de um diplomata ou de um romance de funcionários da ONU.
A obra se ancora no presente, durante a aflição de Sérgio soterrado após o bombardeio, fazendo digressões a missões humanitárias passadas e a momentos da vida pessoal. A estratégia soa coerente, mas o desenrolar do momento presente é absolutamente estéril e não agrega à evolução narrativa. Quando se olha para trás, encontram-se episódios infelizes como os mencionados. Desperdício de preciosos insumos que poderiam render um bom filme, mau uso do talento de Wagner Moura no papel principal.
Nem Vale Ver !
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