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'A Jornada' traz o difícil impasse maternidade x realização profissional | 2020

NOTA 9.0

Por Karina Massud @cinemassud 


Desde que as mulheres conquistaram sua independência através do trabalho, elas enfrentam um dilema que parece eterno: cuidar da família e filhos ou focar na carreira. A maioria das profissões proporciona a possibilidade de organizar e encarar tudo isso sem precisar abrir mão de nada. No entanto, ser uma astronauta à primeira vista parece ser incompatível com a função de ser mãe. Esse dilema é o centro da trama de “A Jornada”, onde Sarah, personagem de Eva Green, desde criança sonha em ser astronauta e ir para o espaço, mas ela tem Stella , sua filha de 7 anos para criar. Como lidar com essas duas tarefas?


Sarah é uma engenheira francesa escalada para ir à Marte na missão “Proxima” (título original do longa), ela então viaja para a Rússia para se preparar, deixando sua filha com o ex-marido, que é muito amoroso e cuidadoso com a menina mas não supre a figura materna. Stella é ao mesmo tempo o impasse que perturba Sarah psicologicamente no trabalho e também a mola propulsora pra vencer os desafios. A química entre Eva Green e a atriz mirim Zélie Boulant é incrível, a intimidade é tamanha que poderiam facilmente se passar por mãe e filha de verdade.

Eva Green está impressionante no papel, as falas são poucas na interpretação intimista  que é focada no olhar brilhante de orgulho por ser escalada pra missão, ou marejado por ter que deixar a filha, na postura de vencedora que não desiste e na altivez com que lida com a equipe masculina que não faz questão de disfarçar o machismo – ela tenta ao máximo manter a frieza e não demostrar o que sente.

“A Jornada” é um drama familiar que além da introspecção e conflito da personagem, mostra fascinantes detalhes do treinamento espartano dos astronautas, do preparo físico (corridas de 15 km, teste de gravidade, reparar espaçonave embaixo da água, etc) , e do que vai acontecer com eles quando estiverem em gravidade zero (crescer 5 cm por exemplo). Os detalhes e realismo são tantos que parece que estamos assistindo um mini-documentário da NASA, pois algumas cenas foram filmadas em um centro de treinamento espacial na Alemanha. A astronauta também trabalha o lado emocional para enfrentar o ambiente do foguete sem  qualquer coisa terrena, exceto os objetos que leva numa pequena caixa, ela começa  a contemplar atentamente coisas banais pra memorizar sensações como o barulho do vento, da chuva caindo no cabelo, das folhas balançando; ninguém imagina o que é ir pro espaço e ser privado de tudo isso. 

A trilha sonora magnífica de Ryuichi Sakamoto aumenta ainda mais o clima etéreo e reflexivo que predomina na trama, as emoções despertadas são diversas:  o desespero de ver o sofrimento de mãe e filha e a alegria de ver um sonho tão fantástico se concretizando.

O filme (que foi exibido nos Festivas de Toronto e San Sebastian e estrearia no Brasil em março) dialoga com mães e inspira todos que tem um sonho, além de fazer uma bela homenagem às mulheres astronautas que escolheram essa profissão tão desbravadora.


Super Vale Ver !




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