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A nostalgia ingrata de 'Scooby! O Filme'' | 2020

NOTA 6.5

Scooby-Doo, cadê você?

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Qual é a primeira coisa que te vem na cabeça quando você pensa nos desenhos de Scooby-Doo? Eu me recordo, antes de mais nada, da humanidade (nos múltiplos sentidos que a palavra "humanidade" possui) que há nos vilões, e nas falas inúmeras vezes repetidas de "se não fossem esses moleques enxeridos…", sempre revelando que os monstros eram, na verdade, somente pessoas mal intencionadas. O charme dos personagens, cada um com sua particularidade, residia no fato de que um complementava ao outro e, por causa disso, a equipe da Mistérios S.A. se fazia funcional e obtinha sucesso em suas inusitadas aventuras.


Todavia, a nova animação em modelos 3D, distribuída pela Warner sob a direção de Tony Cervone, segue um caminho oposto a esse que é tido como a identidade da turma. 'Scooby! O Filme' me lembrou em diversos momentos o filme 'Os Pinguins de Madagascar', lançado no Brasil em 2015. A intenção dos bobinhos e atrapalhados do grupo (nesse caso Salsicha e Scooby-Doo) em se provarem "membros valiosos e indispensáveis" da equipe aqui se repete quase que com a mesma fórmula. Salsicha e Scooby tem sua amizade colocada em prova quando se vêem divididos entre suas ambições pessoais de ascensão e os votos inquebráveis que fizeram um ao outro na infância. E por focar demasiado nisso, falta espaço para que a equipe se estabeleça como equipe nessa nova roupagem e os atributos dos demais membros ficam "guardados" para o terceiro ato. Com personagens secundários que parecem ter saído de uma HQ de super-heróis complexados, este filme se aproxima mais do gênero hoje consagrado pelos filmes Marvel/DC do que com os desenhos antigos da Hanna-Barbera, dada a megalomania que se vende nessa obra. 'Scooby-Doo' sempre foi algo mais contido, colocando em primeiro plano uma relação entre cinco pessoas diferentes (considerando Scooby como uma pessoa, é claro) que se completam e fazem sua equipe ser única.

Não há aqui o mistério, não há as reviravoltas, e o fator do imprevisível se perde em um roteiro que se fundamenta em nostalgias e referências a demais desenhos do estúdio que são até inicialmente bacanas, mas que cansam pelo excesso do fan-service quase despropositado. As conexões com outros personagens criados por William Hanna e Joseph Barbera é, apesar de algo incrível de ver e trazer até algumas ótimas surpresas, uma versão que desvirtua alguns personagens em prol da "coerência" do roteiro, e isso deixa um gosto estranho na boca que mistura a alegria em vê-los com a estranheza da nova visão acerca deles mesmos. No entanto, o que se estabelece positivamente são os comentários que fazem conexão com o mundo fora do desenho, como os irmãos Hemsworth, Harry Potter, e até mesmo Capitão América. Só que apesar de ter os bordões de Scooby-Doo, os efeitos sonoros canastrões e engraçados de Scooby-Doo e até os momentos surreais de distrações e fugas miraculosas de Scooby-Doo, carece ao filme o essencial do espírito de Scooby-Doo em sua base fundamental: a surpresa.

Mesmo sendo uma delícia visual, com personagens de feições carismáticas e cenários bem elaborados, a produção se apresenta sem a alma que consagrou Scooby-Doo na cultura popular e apela ao sobrenatural como forma simples de justificar um caso complicado, onde o próprio Scooby-Doo é a chave que o resolve. Desse modo, é triste que uma obra tão promissora tenha se perdido em sua própria grandeza e se faça um conto que parece mais um filme infantil da Marvel ou da DC do que com 'Scooby-Doo' que conhecemos de fato.


Vale Ver !


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