'Clemency' toca na delicada questão da pena de morte sem piedade | 2020
NOTA 9.0
Por Karina Massud @cinemassud
Uma das questões mais polêmicas e discutidas ontem, hoje e sempre é a pena de morte. É justo pagar olho com olho e dente com dente? E os erros judiciários, como ficam? Quão desumanos são os métodos de execução?
Warden Bernardine é a diretora de um presídio onde estão condenados à morte por injeção letal. Vemos cenas fortíssimas de todo o processo, desde o ensaio obrigatório até a morte desses presos, algo macabro de se testemunhar. E ela está próxima da execução de Anthony Woods, a 12ª da sua carreira, sempre com muita competência e exatidão que a profissão exige, mas agora com muitos questionamentos.
A trama pesadíssima coloca a pena de morte sob duas perspectivas: a do condenado com todas as etapas que antecedem a injeção letal, o stress e pensamentos que povoam sua cabeça, e por que não dizer o arrependimento do crime cometido. Mas a principal linha da narrativa é a de como essas mortes afetam a diretora, que semana após semana coordenando e vendo execuções vai tendo o seu emocional minado e sua vida praticamente destruída, pois esses fantasmas a perseguem por onde quer que ela vá. O prisioneiro não é a única vítima do corredor da morte, todos os envolvidos parecem mergulhar no suplício que envolve a execução; a diretora, os familiares, guardas e até o padre que vai dar a extrema unção.
Alfre Woodard está em uma performance arrebatadora como Bernardine, ela parece possuída pela diretora em sua tarefa ingrata: seu olhar e sofrimento, apesar de contidos, são de uma profundidade abissal, dói na alma e nos parece que ela vive num pesadelo do qual nunca vai acordar.
A sinopse oficial do filme diz que ela se envolve emocionalmente com Anthony, que aguarda a revisão da pena ou o perdão do governador, envolvimento esse que é superficial e bobo, dispensável pra complexidade do longa. Mas a cadência da trama compensa: lenta e constante, a trama nos faz imergir ainda mais naquele transe na mente da protagonista.
"Clemency" é o segundo longa da diretora e roteirista Chinonye Chukwu, que com ele foi a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio do Grande Júri Dramático no Sundance Festival 2019. Ela não dá lição de moral ou apresenta uma visão definitiva sobre a pena de morte, apenas nos entrega material para que cheguemos ao nosso próprio veredito. Um filme impactante sobre o qual se reflete longamente por dias, e mesmo assim, as respostas acerca da pena capital jamais serão satisfatórias.
Super Vale Ver !
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