Dica Telecine: 'O Pecado Mora ao Lado' | 1955

Por Rogério Machado

Por trabalhar em uma editora, textos são uma constante na mesa de Richard Sherman. As vezes, como acontece com qualquer um de nós, ele leva trabalho pra casa, e num desses episódios, um manuscrito que está prestes a ser publicado,''O Impulso reprimido no homem de meia idade, suas origens e consequências'', se torna o mote não só de uma cena impagável e das melhores no clássico 'O Pecado Mora no Lado' (1955), como também de toda a trama. 

O debate de moralidade e índole permeiam essa comédia emblemática de Billy Wilder - lendário cineasta com mais de 60 filmes -, e no meio desse apanhado de tantas obras memoráveis, outro encontro marcante com Marilyn Monroe: 'Quanto Mais Quente Melhor' , apenas quatro anos depois, em 1959. Diferente deste segundo filme, a comédia assume, ainda que despretensiosamente, um tom de crítica ao machismo, de como a cultura influencia gerações no modo de agir e pensar no que tange a relação homem x mulher. 

O caricato Tom Ewell é quem dá vida ao editor Sherman. Ele vai passar o verão sozinho, pois sua esposa e seu filho foram passar as férias longe. E ele começa a fantasiar sobre outras mulheres, como se fosse um conquistador irresistível - quando, na verdade, pretende se manter fiel à esposa, é bastante tímido  e até  um pouco desastrado. Para complicar sua vida, eis que surge uma nova vizinha, a aspirante a estrela vivida por Marilyn Monroe, simpática, sapeca e sensual. Será que o casado convicto resistirá a tentação que está ali bem ao lado dele?

O filme brinca com algumas cenas famosas do cinema, como o beijo que marcou a história do cinema clássico de 'A Um Passo da Eternidade' (1953), e traz a célebre cena de Marilyn Monroe com a saia esvoaçando provocando pela passagens dos trens do metrô. Mas aparte todas as referências, a discussão que o longa trás, como disse na abertura desse texto, dá um passo à frente nas comédias realizadas na época. Na cena, por exemplo, que dá sequência a leitura do manuscrito, Sherman tem diversos pensamentos machistas e misóginos que se fossem nos dias de hoje, poderiam gerar polêmica. Como por exemplo quando Sherman  divaga sobre o porque da esposa ligar logo às 22 horas:  ''Deve achar que já não é mais tão jovem... um dia acordará e verá que sua beleza acabou..Não é pra menos , ainda mais que estou tal qual quando tinha 28 ..o que fazer se não envelheço? É um fato biológico , as mulheres envelhecem mais rápido do que os homens''

Essa é só uma das representações que indicam essa discussão no longa de Wilder, existem outras não tão literais e mais caricatas, mas sempre com algo a dizer. Enfim, com polêmica ou sem polêmica, 'O Pecado Mora ao Lado' merece ser visto não só por ser um dos melhores filmes de Miss Monroe, mas também por ser uma das obras mais marcantes de todos os tempos no cinema.