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A quebra de cadência impede 'O Pai' de ser magnético | 2020

NOTA 7.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica

A relação entre pai e filho ganha protagonismo após o falecimento da matriarca da família. O luto promove o reencontro e coloca em evidência a falta de intimidade entre ambos. O distanciamento fica evidente com a nitidez da reciprocidade das reações adversas frente ao exercício dos costumes tradicionais do pai e à modernidade do filho. O atrito forçado entre gerações é o que promove o desenvolvimento do enredo.


Dentre as tantas abordagens possíveis para a temática da aproximação familiar circunstancial, a obra flerta com alguns métodos, mas perde a oportunidade de se apropriar e cativar com uma proposta central. Inicialmente, os sinais parecem colocar em evidência o anacronismo como elemento dissociador de Pavel, o filho e Vasil, o pai. Os recursos empregados se apropriam de pedidos do pai para que se tire fotos da falecida e esposa e o manuseio enfático de câmeras digitais. Posteriormente, o desnível de intimidade tecnológica avança e justapõe a diferença de crenças: o pai é nitidamente supersticioso, o mesmo parece ser igualmente forte no seu círculo social. Mesmo incorporando o elemento das crenças sobrenaturais ao ingrediente inicial, ainda estamos diante do conflito de gerações. Esse exercício é o ponto alto da exposição da fricção entre as principais entidades da obra, evolui de forma convidativa numa mescla harmônica de drama e humor.

Entretanto, o objeto inicialmente polido com competência se aprofunda de forma excessiva no campo das crendices. O ritmo imprimido na abertura cria a expectativa de que a maior suscetibilidade ao mundo místico por parte do pai seria apenas mais um dos meios narrativos, não um dos principais escopos. O resultado dessa escolha gera uma arritmia viciosa na medida em que partimos de um ponto mais enérgico de contextualizações para o compadecimento estático de um senhor supersticioso que busca respostas espirituais com gurus locais. Mais do que a diferença de assunto, a perda decorre principalmente da quebra de cadência.

O objetivo, apesar de tudo, é mantido e perseguido do início ao fim. Mesmo perdendo a oportunidade de ser prazerosamente aliciante em função da mudança de foco, o filme propõe uma solução tocante para a aproximação de pai e filho.


Vale Ver !




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