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‘Misbehaviour’ traz ao público um protesto histórico, que fez explodir o movimento feminista | 2020

NOTA 7.5

Por Karina Massud @cinemassud 


Até meados do século XIX as mulheres eram tidas como seres de segunda categoria, destinadas a serem submissas a seus pais ou maridos, terem filhos e cuidar da casa, sem direito à independência ou a ter opinião própria. O feminismo começou a mudar tudo isso, um movimento que teve início no final do século XIX e princípio do século XX, reivindicando direitos iguais entre mulheres e homens, o voto feminino, o direito ao aborto, direito de optar por ter ou não filhos (a pílula foi inventada em 1957, uma verdadeira revolução desarmada) e de participar da sociedade lutando contra o machismo e a objetificação feminina.

Milhões de mulheres ao redor do mundo se uniram reivindicando esses direitos, mas o ano de 1968 foi marcante pois deu início à onda das marchas e protestos públicos, com a histórica “Queima dos Sutiãs”, protesto na cidade de Atlantic City que reuniu 400 mulheres que repudiaram o concurso de Miss America, considerado uma forma de exploração feminina pela mídia que chegava ao cúmulo de exigir virgindade das concorrentes. Lá as manifestantes empilharam sutiãs, sapatos de salto alto, maquiagens e acessórios, objetos sinônimos de escravização feminina aos padrões estipulados.


A comédia britânica “Misbehaviour” conta com leveza um episódio idêntico: o concurso de Miss Mundo 1970 em Londres, que na época pareceu pequeno mas teve um peso gigantesco em toda a evolução da luta feminina em busca dos direitos e da igualdade. Época em que as feministas tinha lucidez e bom senso no que pregavam, pois hoje em dia o movimento radicalizou a ponto de execrar toda e qualquer participação masculina, não é à toa que as defensoras ganharam o apelido de “feminazis”.

Na trama Keira Knightley vive Sally Alexander, estudante universitária e mãe de um menino que sua mãe ajuda a cuidar e que luta pra dar conta desses afazeres e ainda ser ativista do Front para Libertação das Mulheres. Ela então conhece a efusiva Jo Robinson (a sempre ótima Jessie Buckley) e entra para uma ala mais radical do movimento feminista, onde juntas planejam e executam a invasão do concurso de beleza Miss Mundo, que na época era o programa mais assistido no planeta com mais de 100 milhões de espectadores. Porque para elas as misses são o cúmulo de objetificação da mulher, vendendo sua imagem e impondo seus corpos a padrões absurdos.

Os homens do filme beiram o desprezível de tanto machismo  que exalam:  Greg Kinnear está sensacional como o lendário comediante Bob Hope, um apresentador muito caricato, fazendo piadinhas sem graça com um sorriso forçado no rosto; os professores e também os estudantes homens, todos certos de que a sociedade patriarcal sempre os protegeria das grosserias contra as mulheres.

“Misbehaviour” não é apenas um filme feminista, mas um filme contra injustiça social e contra o racismo (quem venceu o concurso invadido foi a Miss Granada, a primeira negra a ganhar a coroa, e não uma loira como era de praxe), mostrando não só o lado das feministas mas também o das misses, pois no final das contas todas estão no mesmo barco lutando por uma vida melhor, cada uma com as armas que têm. Essa reflexão só é possível hoje à luz da história e das conquistas já adquiridas, dá pra nos colocarmos no lugar tanto das candidatas quanto das feministas.

O título do filme, que se traduz como “mau comportamento”, brinca com o que é esperado das mulheres, o bom comportamento passivo e sem questionamentos ou rebeldia. É como se dissesse para as feministas: “Garota levada, você não se comportou direito!”

Ao final  do longa quem merece levar a tiara de Miss é a diretora Philippa Lowthorppe que acertou em cheio na dosagem de elementos, “Misbehaviour” não é um grande filme mas agrada e presta um serviço ao feminismo, colocando em evidência esse protesto tão curioso e significativo. E talvez abra a mente dos radicais cheios de mi mi mi: bom senso deve existir principalmente quando se pleiteia direitos.


Vale Ver !




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