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'Piedade', de Cláudio Assis, é uma história de resistência e diversidade | 2020

NOTA 8.0 

Por Rogério Machado 

Ainda que com longa estrada percorrida nas artes cinematográficas  (quando produziu 'Baile Perfumado' em 1997), o pernambucano Cláudio Assis coleciona poucos trabalhos como diretor. 'Piedade', que passou pelo Festival do Rio, pela Mostra SP e está disponível no primeiro Festival de pré estreias on line do Espaço Itaú de Cinema, é apenas seu quinto trabalho. Cada produção, a seu modo, reafirma a  marca de Assis, onde os recados firmes, com ousadia e sem rodeios, permanecem. 


Na trama conheceremos a Praia da Saudade, na pequena cidade de Piedade. Lá encontra-se o bar Paraíso do Mar, conhecido por sua deliciosa moqueca de cação e cerveja sempre gelada. Construído por Humberto Bezerra há mais de trinta anos, o lugar é gerido por sua viúva Dona Carminha (Fernanda Montenegro) e seu filho mais velho, Omar (Irandhir Santos), e funciona como um dos focos da resistência local contra o avanço predatório da corporação petroleira Petrogreen,que deseja comprar o lugar para ampliar seus negócios. Quando o executivo paulista Aurélio (Matheus Nachtergaele) chega, representando os interesses da empresa, o cotidiano da família é abalado, trazendo à tona segredos há muito tempo escondidos e uma inusitada conexão com Sandro (Cauã Reymond), dono de um cinema pornô do outro lado da cidade.

'Piedade' é um drama familiar, narra a aflição dessa mãe que perdeu o filho e sonha em reencontrá-lo, uma família que vive sob a sombra dessa perda mas segue firme e resistindo. Contudo, a trama de  Cláudio Assis também é múltipla, uma marca do cineasta, que mixa com maestria subtramas que colidem no tema central com muita fluidez. Ao falar do dilema familiar, Assis também discute crime ecológico, sexualidade e não economiza em ser enfático e literal: logo na abertura, um curto plano sequência numa fotografia quente, registra muito sexo (bi, homo, heterossexual) nas cabines do cinema pornô de Sandro. As manifestações e a resistência no avanço da petrolífera na localidade tem menor impacto, mas ainda sim soma esforços à pluralidade da narrativa. 

O circo midiático em torno da dita tórrida cena de sexo entre Matheus Nachtergaele e Cauã Reymond pra mim foi muita fumaça pra pouco fogo: é sensual, elegante, mas nada que beire o polêmico. Mas é claro que estamos num filme de Assis com roteiro de Hilton Lacerda ('Fim de Festa' - 2019), e a liberdade no uso da palavra e da imagem é praxe nos projetos em que os caras estão envolvidos. 

Para além de um filme político , está um trabalho que tem algo de doce, tem toque biográfico, e aposta na simplicidade de um tema recorrente: “São exemplos que estão aí na sociedade. São baseados em fatos, mas é uma história fictícia. Faz parte do meu universo. No fim, eu dedico o filme à minha mãe, que fez parte disso. Mas é uma história comum que está acontecendo a toda hora”, disse Assis em uma de suas entrevistas. 

Atualização:  O filme chega em circuito comercial 05/08/2021

Vale Ver !



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