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Dica Telecine : 'J.T. LeRoy – Escritor Fantasma' | 2018

Por Karina Massud @cinemassud 


Não é incomum no meio artístico que celebridades escondam suas identidades atrás de pseudônimos ou disfarces. Podemos citar a cantora SIA, o artista plástico Banksy e até o escritor Fernando Pessoa. Para a minha alegria, pois amo histórias fantásticas, descobri um escritor que existia porém sua persona física era uma farsa : J.T. LeRoy  e Savannah, a mesma pessoa numa mentira  doida que durou 6 anos e é desnudada no filme “J.T. LeRoy – Escritor Fantasma”

No início dos anos 2000 uma das maiores celebridades do mundo literário era J.T. LeRoy, ex-garoto de programa soropositivo, abusado sexualmente na infância e criado pela mãe prostituta viciada em drogas que contou sua trajetória nos livros que viraram best sellers: “Sarah” e “Maldito Coração”. LeRoy era uma criação da escritora Laura Albert e quando aparecia em público era interpretado por sua cunhada Savannah.


O que era pra ser apenas uma aparição numa sessão de fotos numa festa vai tomando proporções cada vez maiores, e quando elas se dão conta já estão no tapete vermelho do Festival de Cannes. O estrelato se transforma numa bola de neve e a situação sai do controle, pois mentira tem perna curta. Uma trajetória de agonia e glória, mentiras e glamour baseados na figura que sempre foi uma farsa e que vivia blindada por óculos escuros, peruca platinada, roupas de toureiro com chapéu de feltro e frases monossilábicas pra não dar bandeira. A encenação foi descoberta em 2005 e foi um grande escândalo no meio literário e artístico.

Kristen Stewart vive Savannah numa atuação medíocre, sem expressão facial ou corporal, numa preguiça de interpretar onde mal balbucia, nos deixando a interrogação se isso faz parte do personagem ou da incompetência por representá-lo. Laura Dern apesar de uma performance que beira a caricatura,  rouba a cena e carrega o filme nas costas como a escritora maluquete que se sente mais confortável se escondendo atrás da figura J.T. LeRoy e dando entrevistas de horas pelo telefone, algo que instigava os jornalistas e  levantava suspeitas; Laura encarna também a assessora britânica Speedie, que “sopra” tudo o que J.T. tem que dizer nos eventos.

Poder feminino e conflitos são a tônica da trama, além das máscaras usadas por quase todos os personagens. Savannah brinca de J. T. Leroy com a superficialidade de quem não conhece a vida de seu personagem, vivendo um romance lésbico com a diretora da cinebiografia do misterioso escritor, romance esse que toma boa parte da trama e desperdiça a excelente premissa da farsa. E Laura Albert vive Speedie, J. T. e ela mesma. Afinal, quem tem a verdadeira autoridade sobre JT?

O público que consome diariamente as celebridades e digital influencers talvez não as questionem; talvez elas sejam uma mera ilusão por trás de um avatar, da tela do celular e do computador, e no caso de J. T. Leroy, uma figura construída nas páginas de um livro e no corpo de Savannah, alguém que só existiu na  mente de sua criadora e de seus fãs. E quem sabe isso nem importe, pois a maioria ama uma boa mentira sincera.



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