Intolerância, fake news e muito rancor no assustador 'Rede de Ódio, da Netflix | 2020
NOTA 10
Por Karina Massud @cinemassud
Tomasz é um estrategista que trabalha numa agência de marketing digital, que tem como principal cliente um político local de bastante visibilidade. Sua principal função é bolar uma campanha contra o adversário do seu cliente, e para isso ele cria muitos perfis falsos em redes sociais, eventos, posts e fake news de todo o tipo difamando e caluniando, numa disseminação de raiva que planta uma sementinha e contagia os mais afoitos e preconceituosos, ávidos por um gabinete do ódio que os lidere. Ele deflagra campanhas racistas, homofóbicas, com o tom da extrema direita, de uma baixeza vergonhosa.
Estamos falando do Brasil? Não meus caros, estamos falando de um roteiro de ficção que se passa na Polônia, e tanta semelhança não é mera coincidência, visto que a intolerância e violência decorrente dela têm sido a tônica mundial. As fake news e campanhas de ódio viraram uma praga moderna em todas as áreas, e quanto mais absurda a notícia, mais rápido ela viraliza.
O protagonista Tomasz é de uma família pobre, disfuncional e tem os estudos pagos por uma família amiga rica que tem ligações com o político líder das pesquisas; ele se sente um vira-latas e por isso está determinado a fazer parte desse círculo da alta sociedade. Mentiras, ressentimentos, inveja e traição fazem parte do seu estilo de vida: tudo isso lhe dá prazer. Ele é claramente um psicopata de dar medo, e o ator Maciej Musialowski dá banho de interpretação: ele chora, bufa de raiva e faz de tudo para boicotar com todos que não o satisfazem; sua aparência frágil e enganadora vai ficando cada vez mais fantasmagórica ao longo da trama, a pele pálida feito cera e olheiras de causar inveja a qualquer vampiro.
A trama mostra as engrenagens dessa loucura, as minúcias e caminhos obscuros dos “haters” (odiadores em português e também o título original do longa) e muitas das consequências causadas, que não são exclusivas do adversário pois a fonte do ódio também recebe sua quota de violência , e aos poucos tudo vai sendo arruinado. E também entra na intrincada mente de Tomasz, que como todo psicopata, é inteligentíssimo e exímio manipulador.
O filme do diretor Jan Komasa (do excelente “Corpus Christi”) é engajado, perturbador e te puxa sem piedade para o turbilhão raivoso criado por Tomasz, colocando a desprezível indústria das fake news sob os holofotes.
Super Vale Ver !
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