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'O Grande Ivan' e o cinema da fofura, da Disney+ | 2020

NOTA 6.0

Fofura sozinha funciona?

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Podemos dizer que 'O Grande Ivan' é mais uma produção que teve seu lançamento afetado por causa da pandemia. Originalmente planejado para os cinemas, o longa dirigido por Thea Sharrock que adapta o livro de Katherine Apllegate acabou saindo direto na plataforma de streaming da Disney em meados de agosto - o que, no fim das contas, acabou sendo melhor. O filme faz uma junção interessante entre a animação e a realidade, propondo uma interação visual similar ao que foi apresentado em 'Mogli: O Menino Lobo', de 2016. No elenco de dublagem traz os nomes grandes e oscarizados de Sam Rockwell e Angelina Jolie, além de Danny DeVito e da singela Brooklynn Prince (de 'Projeto Flórida' e 'Os Órfãos') com uma doçura cativante como a pequena elefante Ruby. O elenco humano é encabeçado por Bryan Cranston, mas quem rouba a cena mesmo é Ariana Greenblatt em sua interpretação da jovem Julia. Resumidamente, o enredo gira em torno da história real de um gorila que vivia em um circo que foi montado na estrutura de um shopping, e que ganhou destaque nos anos 90 e causou comoção na imprensa local, o que fez com que houvesse uma manifestação em prol da liberação dos animais.

Não estamos diante de nenhum filme memorável, desses que vai mudar o mundo ou revolucionar a indústria; todavia, a produção serve perfeitamente ao seu propósito estabelecido desde os primeiros minutos: ser um entretenimento casual que ensina a crianças uma lição importante sobre amizade e compaixão. O ponto que me incomodou é que, apesar de inicialmente idealizado para os cinemas, o filme inteiro tem estrutura de produção para a televisão. A comparação com o Mogli de Jon Favreau pode parecer cabível, mas ao mesmo tempo soa injusta por se tratar de uma produção que nem de longe é tão cativante quanto o longa vencedor do Oscar de Melhores Efeitos Visuais em 2017. O mais adequado seria medir o filme a partir de 'Perdido pra Cachorro', de 2008, que também tem animais falantes interagindo com o mundo real e, ao meu ver, é mais semelhante a 'O Grande Ivan' em sua proposta. Claro, os efeitos de 'O Grande Ivan' são imensamente superiores aos de 'Perdido pra Cachorro', mas isso só se dá pelo fato de que a tecnologia evoluiu nos 12 anos que os separam. 'O Grande Ivan' é um 'Perdido pra Cachorro' com orçamento e qualidade dos efeitos de 'Mogli: O Menino Lobo'. Fora isso, os dois filmes (esse do gorila e o dos cachorros) estão essencialmente no mesmo patamar - um com a intenção de ser engraçado e o outro com o objetivo de emocionar, mas ainda assim ambos no mesmo nível categórico de produção. 

Sem mais delongas, o filme é fofinho e só. E fofura sozinha não basta pra "encher barriga". Ele emociona até um ponto e ensina algumas lições aos pequenos, usando frases de efeito e pérolas de sabedoria, mas não é suficientemente funcional em sua totalidade. Os efeitos visuais são excelentes, com texturas e camadas que expõem muito bem as emoções e feições humanas nos olhares dos animais, e a trilha sonora de Craig Armstrong é eficiente em conduzir as emoções no decorrer da trama. É um filme para o público infantil, e devemos nos lembrar disso, mas ainda assim, mesmo com as qualidades que citei, falta-lhe substância. O filme tem algum mérito por se tratar da romantização de uma história real, que aqui é feita com efeitos de última geração - e nada mais. Pode ser cativante em uma primeira vista, e provavelmente seus filhos vão gostar, mas não é o tipo de filme que chega e fica, que transpõe gerações e que os seus filhos irão querer apresentar aos filhos deles (como é feito hoje com 'Shrek', 'O Rei Leão' e 'Procurando Nemo'). 

Devo deixar a ressalva de que o filme não se trata de uma bomba, e na verdade passa longe disso. A nota que dou e a crítica que faço se dá pelo fato de que, em um mundo onde produções similares estão alguns patamares acima, é injusto reconhecê-lo de igual maneira se ele não se dispõe a ser isso. É um filme para um público específico, claro, só que nem para esse público específico ele consegue se destacar de maneira notória. Há quem diga que o filme é bom para promover um diálogo com as crianças acerca de como os humanos interagem com outras espécies, mas, sinceramente, há filmes melhores que cumprem esse propósito com mais eficiência.

Vale Ver Mas Nem Tanto !




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