Dica do Papo: Império do Sol | 1988

Por Rogério Machado

Passados mais de 30 anos de seu lançamento, 'Império do Sol' é um dos poucos filmes em sua temática, a não despontar para a crítica especializada ou mesmo para o público.  O longa de maior fracasso em bilheterias do lendário Steven Spielberg faturou pouco mais de 20 milhões, muito atrás de seu filme anterior, 'A Cor Púrpura' (1985), que chegou a 100 milhões de dólares. Contudo, mesmo não sendo um dos filmes que melhor representa  a genialidade de seu realizador, o longa  deixou um legado para a sétima arte que à época, certamente ninguém apostaria : a performance competente de Christian Bale , que em 'Império do Sol', ainda uma criança com 10 anos de idade, já estava em seu terceiro trabalho, mas com a grande responsabilidade de um protagonista, e dessa vez no cinema.

Na história conheceremos o  menino inglês Jamie Graham (Bale). Jim, como é chamado pela grande maioria, mora na China com seus pais e vive uma vida tranquila, mas com o explodir da segunda guerra,  os japoneses a invadem e enviam todos os estrangeiros para campos de concentração. Jamie então se junta a um soldado americano chamado Basie (John Malkovich), que passa a cuidar dele no campo. Embora esteja separado dos pais e em um ambiente hostil, Jamie mantém a dignidade e o otimismo, dando esperança a outros prisioneiros através de pequenas ações de benfeitoria. 

'Império do Sol' é uma história de amadurecimento, uma saga dolorosa da perda da inocência e da luta pela sobrevivência.  A percepção da guerra aos olhos de uma criança é abordada com sensibilidade por Spielberg, um realizador  já acostumado a dirigir pequenas estrelas, e aqui o mestre consegue extrair todo potencial de Bale, tanto em imagens grandiosas, em planos abertos envoltos numa fotografia costumeiramente exuberante , ou ainda em sequências mais intimistas, de carga dramática mais pesada.  O ator, ainda uma promessa incerta, se sai bem em todas elas. 

Aos mais críticos, será inevitável não notar uma leve romantização da guerra e da desigualdade que sobressalta em períodos de conflito, notados em algumas sequências, como por exemplo quando o menino bate continência para os aviadores ou quando ele diz que enquanto a guerra durasse eles estariam seguros em um campo de concentração. Contudo, existem outros atributos que ganham facilmente a nossa atenção; não somente pelo brilho do pequeno protagonista, mas também pelas belas cenas de bombardeio aéreo e combate. 

Outro detalhe que também incomoda, é o não aprofundamento da relação de Jamie com seus pais, já que boa parte da trama ele espera revê-los. Penso que se a relação deles nos fosse melhor introduzida, ficaria mais fácil torcer pelo reencontro, e não é isso que acontece. De todo modo, é uma obra para se deleitar no encantamento da infância e em suas descobertas. No fim, interessará muito mais a trajetória do pequeno Jamie, do que propriamente o desfecho de sua saga. É Spielberg, e o festival de belas imagens - aliadas à sempre ótima trilha de John Williams - está garantido.