Adsense Cabeçalho

As anedotas da mazela em 'O Tigre Branco' | 2021

NOTA 8.0

Quem quer ser um empresário?

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

"O mundo é dos espertos" - já dizia minha mãe. O verbete maternal que cresci ouvindo é uma constante que percebo hoje no mundo dos adultos, e que vez ou outra ganha destaque nas tramas do cinema. Grandes obras como 'O Lobo de Wall Street', lançado no Brasil em 2014, e o recente 'Parasita', de 2019, trabalham com competência os jogos de poder que se estabelecem entre as classes, mostrando o cenário sob a perspectiva de quem anseia por uma ascensão e trilha caminhos questionáveis. E como um acréscimo notável a essa categoria de filmes, chega à Netflix um filme indiano (falado em inglês) dirigido e roteirizado por Ramin Bahrani sobre o livro homônimo original de Aravind Adiga, levando às telas a jornada de Balram Halwai e suas espertices egocêntricas.


'O Tigre Branco'
se constrói como uma triste piada metafórica, expondo aqueles que ficam às margens e seus sonhos partidos que, em raras ocasiões, ganham uma oportunidade de construir uma vida melhor - como um vislumbre rápido que só dá certo se a pessoa for astuta. Balram é uma figura de identificação quase universal - isto é, os 98% da população não-rica do planeta certamente irão se ver refletidos em alguma das ambições ou desejos do pobre sonhador. Suas façanhas são anedotas, sempre espreitando os maiores acontecimentos da vida movimentada dos figurões em que o acolhem para encontrar a brecha que o permitirá melhorar de vida. Com isso, ele segue alterando o rumo das águas por onde trafega ao invés de se deixar ser levado pela correnteza "natural" de sua condição social.

Com uma estrutura narrativa (a história de vida contada em etapas) e um estudo cultural (a ambientação dos lados pobres da Índia) que em muito se assemelham ao oscarizado 'Quem Quer Ser um Milionário?', o novo filme da Netflix tem uma pegada ousada ao propor um "herói" de caráter questionável, com alguns remorsos e uma personalidade extremamente audaciosa. A grande questão dialogada intrinsecamente aqui é: é possível mudar de vida, crescer e ir longe sem praticar nenhum tipo de desonestidade ou corrupção? Ao nos levar a desenvolver afeição com o protagonista, o filme levanta logo em seguida um dilema de meritocracia muito pertinente aos debates sociopolíticos que ainda permeiam as opiniões divergentes sobre o modelo de regime mais justo ao povo pobre - e isso é fantástico de digerir nas duas horas em que o filme é exibido.

Com uma selvageria cobiçosa e uma astúcia absurda por parte de seu personagem central, 'O Tigre Branco' é um ótimo exemplar dos ensinamentos de minha mãe - de um jeito não muito educativo ou moralmente correto, mas ainda assim eficiente em seu discurso e ágil em sua mensagem. Seja em um velho vocábulo ou em uma prática milenar de se fazer às custas dos outros, o mundo de fato é dos espertos.


Vale Ver !



Nenhum comentário