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Regina King eleva lendas a humanos em 'Uma Noite em Miami' | 2021

NOTA 8.0

Por Eduardo Machado @históriadecinema 

Imaginem um encontro entre o ativista Malcolm X (Kingsley Bem Adir), a estrela do futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge), o boxeador Cassius Clay (Eli Goree) e o músico Sam Cooke (Leslie Odom Jr.). Sabemos que o encontro aconteceu, mas ninguém sabe exatamente o que se passou no quarto de hotel onde comemoraram o título mundial de boxe de Clay.

Partindo de um fato histórico, Kemp Powers não só imaginou o encontro, como o utilizou como inspiração, há alguns anos, para uma peça de teatro agora adaptada para o cinema. Não seria, entretanto, fácil rodar quase 2h de filme dentro de um quarto de hotel com somente 4 personagens. Regina King, contudo, aproveita-se da claustrofobia para transformar cada movimento desses homens em um evento para o espectador. Um filme que pulsa com as performances fenomenais dos quatro atores principais.

O filme de Regina King prioriza os diálogos em detrimento da ação, mas isso, incrivelmente, não tira o dinamismo do longa, que consegue demonstrar a inquietude desses homens. Inquietude, porém, que não os transforma em heróis, mas os eleva à posição de humanos. O grande brilhantismo está em como o filme consegue captar a humanidade dessas lendas. São ícones inegáveis, mas que, no fim do dia, sentem medo, raiva, sentem dúvida e choram como nós.

Ainda propõe debates interessantes e sentimos um tom de urgência na fala daqueles homens que nos coloca em uma posição difícil. Como é possível que a mesma conversa, o apelo de negros para serem vistos e valorizados como humanos ainda não foi superado tantas décadas depois?

Talvez por ser também uma lenda cheia de imperfeições como Malcolm, Cooke, Brown e Clay, suspeito que ninguém dirigiria melhor esse filme do que Regina King. Alguém dotada de uma compreensão inata das palavras de Kemp Powers, que reconhece a premência do que ali foi dito e que sabe que os versos de "A Change Is Gonna Come" não podem morrer na boca de Sam Cooke. Já se passaram quase 60 anos. A mudança tem que vir agora. 


Vale Ver !



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