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Aquecimento SnyderCut : A conflitante resolução de ‘Batman vs Superman: A Origem da Justiça’

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

O segundo passo, meio tropeçado, rumo à 'Liga da Justiça'

As figuras de Superman, Batman e Mulher-Maravilha são de conhecimento universal, e isso pode ser dito sem exageros. Os principais protagonistas da DC Comics são ícones da cultura popular, e podem ser vistos nos quatro cantos do mundo. Os traços tão marcantes de seus uniformes viraram estampas de camisetas e, principalmente hoje em dia, são algo visto com facilidade até mesmo em cidades pequenas - e muito dessa explosão se dá por conta de um filme que deu novos fôlegos aos personagens, unindo-os no cinema pela primeira vez. O filme, claro, é ‘Batman vs Superman: A Origem da Justiça’, que estreou em março de 2016 fazendo muito barulho e dividindo opiniões, se tornando um dos filmes mais debatidos dessa geração (falem bem ou falem mal, falem de ‘BvS’). O diretor Zack Snyder tinha uma visão bastante própria de como queria conduzir sua história, e por conta de intervenções do estúdio (Warner Bros.) o filme sofreu cortes que o comprometeram completamente, desde a compreensão de sua estrutura até a coerência dele em si mesmo. Como resultado, temos uma obra picotada e atropelada que se perde dentro de sua própria complexidade - mas repito, não por culpa do diretor. Hoje, cinco anos após sua estreia, o filme é revisitado em preparação para o evento que é a sua tão esperada sequência legítima.

Se você pretende rever ‘Batman vs Superman’ antes de assistir a versão do Snyder de ‘Liga da Justiça’, fica a recomendação: assista a versão estendida, que tem 30 minutos a mais em sua duração - minutos preciosos, por sinal, que dão sentido à história e tornam todo o emaranhado de eventos que se desenrolam em cena em algo palpável. A versão de cinema é uma bagunça, e a montagem de suas cenas confunde mais do que esclarece. Nela as motivações de todos os personagens principais não é bem explicada, e a trama investigativa de Louis Lane que gira em torno de Lex Luthor é o ponto que mais sofre com a ausência das cenas adicionais (que são, na verdade, o filme como Snyder idealizou). O plano de Lex parece uma sequência de golpes de sorte, a interferência da Mulher-Maravilha soa um bocado gratuita e as pistas acerca da investigação de Louis parecem cair de paraquedas em seu colo. O embate físico, no fim das contas, se apresenta despropositado e até deslocado, uma vez que a fúria nutrida por Batman não é algo tão bem colocado na tela antes disso (por mais que Ben Affleck faça algumas caras fechadas vez ou outra). Como resultado, fomos presenteados com um dos momentos mais controversos do cinema contemporâneo: o momento Martha.

Em minha visão, o filme ficaria melhor (e até o elemento "Martha" seria mais bem aceito) se houvesse uma inversão em suas duas primeiras cenas: o assassinato da família Wayne e a destruição em Metropolis. O filme original abre com o velório dos pais de Bruce, enquanto ele corre relutante por um bosque e cai em um poço, com takes intercalados do momento do crime fatal que seus pais sofreram. Em seguida, já se mostra o caos que se instalou em Metropolis, na ocasião em que a humanidade foi apresentada ao Superman e aos seus poderes. O momento Martha, posteriormente, resgata o toque do piano de ‘A Beautiful Lie’, que é a composição que abre o filme enquanto a Martha de Bruce Wayne é morta; contudo, o evocar daquele prólogo falha na intenção de provocar qualquer tipo de empatia ou sentimentalismo porque não existe uma preparação para dimensionar a importância da mãe de Bruce para ele. Com a inversão das cenas essa “preparação” estaria mais evidente, e os primeiros minutos do filme fariam mais sentido dentro do universo do DCEU. Imagine o seguinte: o filme começa com a destruição de Metropolis e Bruce Wayne dirigindo seu Renegade em meio aos destroços que caem dos prédios e do trânsito enlouquecido. Após a queda da torre Wayne, Bruce salva uma menina dos destroços e pergunta onde está a mãe dela; a garota, por sua vez, aponta para a torre  que já não existe mais, e então Bruce a abraça enquanto encara enfurecido a descida de Superman e Zod em meio aos destroços de um de seus satélites… E aí começa a cena do velório e do assassinato dos pais de Wayne, como um flashback e não como uma apresentação do personagem. Toca-se a melodia de ‘A Beautiful Lie’, enfatizando a importância de Martha como uma lembrança evocada pela menina órfã que Bruce abraçou na cena anterior, e a sequência se fecha com Bruce sendo elevado pelos morcegos em sua ascensão em saída do poço. Depois disso ele poderia acordar, ou até mesmo ler um jornal, ou ainda a cena poderia ser a mesma que segue no filme após essas duas primeiras, que é a do mergulhador em algum lugar do oceano Índico. Se a estrutura fosse essa, a figura de Martha teria sido estipulada como relevante para Bruce desde o começo do filme.

No entanto, o filme está aí e o resultado já é conhecido. Martha se tornou motivo de piada, e a mudança abrupta do Batman em decidir não matar Superman quando teve a chance acabou não convencendo com tanta eficácia. E para fechar com chave de ouro, a última tomada do filme mostra parte do punhado de terra que Lois Lane joga sobre o caixão de Clark levitando no ar, coisa que ficou estipulada desde ‘O Homem de Aço’ como sendo o que acontece quando o Superman está prestes a levantar vôo. Se a terra levitou então é sinal de que ainda havia algum resquício de vida nele, e se fosse esse o caso então bastava pendurar o defunto no varal e deixar pegar um sol - afinal de contas, é o sol amarelo do nosso sistema que dá ao Superman uma força sobre-humana e uma resistência incrivelmente forte. Em todo caso, ‘Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um ótimo filme, mesmo pecando em vários pontos (desde os seus trailers, inclusive, que entregaram a maior “surpresa” do conflito final, que era a presença do vilão Apocalipse em combate contra os heróis já reunidos). Com isso, concluo que ainda há muito a ser conversado sobre o filme nas rodinhas nerds, onde todos concordam, discordam, e concordam em discordar sobre as várias polêmicas causadas pelos rumos que o filme toma. Entretanto, é indiscutível o impacto que a produção teve no cinema como um todo, ditando o universo cinematográfico da DC em um tom sombrio e demasiado sóbrio, que posteriormente levou uma legião de fãs a reivindicarem a realização do SnyderCut com o mesmo tom e o mesmo estilo dinâmico adotado por Snyder e por sua visão singular sobre esses heróis.

O SnyderCut já está entre nós! 



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