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Aquecimento SnyderCut: Como 'O Homem de Aço' redesenha a imagem do herói inabalável que Superman sempre teve

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

O primeiro passo, dado com o pé direito, rumo à 'Liga da Justiça'

Superman sempre foi um símbolo de otimismo e esperança. Os filmes e séries que o retrataram sempre tiveram ênfase na face humilde da persona heróica do alienígena humanóide com a cueca por cima da calça, destacando (na maioria das vezes) a humanidade que emanava dele. Contudo, leia "humanidade" nos melhores sentidos do termo: compaixão, proteção, justiça. E então, com o sucesso da visão mais centrada e realista que Christopher Nolan deu ao Batman em sua trilogia consagrada por público e crítica, a Warner decidiu apostar em uma linha similar para fazer um reboot na história de Superman, aplicando um contexto contemporâneo e uma visão moderna do herói, dando a ele uma humanidade ainda não devidamente explorada no cinema: a humanidade da dúvida e da falha. Desse modo, 'O Homem de Aço' conseguiu impor fragilidade ao indestrutível Superman (não leia "fragilidade" e "indestrutível" dentro de uma esfera física; afinal, a Kryptonita está aí desde os primórdios do herói - leia os termos no âmbito da crise de identidade, da consciência perturbada pela obrigatoriedade de tomar decisões difíceis, do lidar com consequências dolorosas, dos dilemas morais e, principalmente, dos sacrifícios pessoais feitos em prol da humanidade).


Hoje, revisitando o filme de 2013, confirmo a mim mesmo seu posto de melhor filme do DC Extended Universe - DCEU (até o momento). A introdução da obra é majestosa, com seus vinte primeiros minutos centrados em como Krypton lidou com os conflitos internos em sua crise final. O que se segue depois desse prólogo é uma estrutura não linear do início da vida adulta de Clark Kent, com flashbacks que recontam (dentro da proposta de Snyder) a mocidade do herói enquanto trocava de identidades à procura de respostas sobre sua origem. É inserido aqui um debate ético/moral ousado e inquietante, pincelando por cima a intenção do diretor de abordar simbologias e referências tanto bíblicas como também a Deus. Em uma conversa com seu pai terrestre Jonathan Kent aos 30 minutos, o jovem Clark indaga que razões Deus teria para fazê-lo. Jor-El, o pai kryptoniano de Clark/Kal-El, afirma no começo do filme que o povo da terra receberia seu filho como um deus. Podemos ver aqui, já neste primeiro momento, Snyder preparando o terreno para trabalhar o paradoxo de Epicuro em 'Batman vs Superman: A Origem da Justiça', que seria lançado três anos depois, em março de 2016. Contudo, a antítese kryptoniana que chega à Terra, personificada na figura do general Zod, não é uma pintura do demônio, não - os demônios viriam depois, dando espaço nesse primeiro filme para a exploração da humanidade do ente não-humano que o Superman é. E aqui, como reflexo da violência do mundo atual, o herói tem que matar para alcançar a paz que almeja; e por sujar as mãos, ele abdica da própria paz e se torna um herói complexado e cheio de dúvidas.

A figura inabalável que outrora se via com a capa vermelha agora passou a refletir a humanidade em todos os sentidos - incluindo os mais sombrios. De esperançoso e humilde, Superman passou a ser realista e temeroso - e isso foi algo fantástico de se assistir, principalmente com uma qualidade técnica tão enorme; e falando do filme nesses quesitos, é justo afirmar que uma personagem tão presente quanto o protagonista é a trilha sonora de Hans Zimmer, que dá o tom (ba-dum-tiss) das cenas e dita com leveza e intensa as emoções que o público deve sentir. Além disso, deve-se destacar também o fato de que Snyder aqui usa e abusa constantemente dos flares com suas lentes angulares, em uma fotografia dirigida por Amir Mokri. O roteiro de David S. Goyer e a produção de Christopher Nolan foram fundamentais para a realização do projeto, com uma mescla de criatividade e sobriedade que, com a dosagem muito bem combinada de atitudes altruístas do herói, foram os componentes perfeitos para iniciar um universo repleto de reverências ao legado amistoso de suas versões anteriores que se direciona com as próprias pernas para um caminho autônomo. Uma das imagens de maior respeito do personagem pela humanidade está na cena em que ele aceita ser algemado e levado sob custódia, mesmo tendo um poder imensamente superior àquilo tudo. Por fim, o herói falho que aprende com seus erros teve uma belíssima jornada de crescimento retratada nesse filme e, finalmente, aprendeu a usar a cueca por dentro da calça.








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