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Trinca de atores oscarizados não salva 'Os Pequenos Vestígios' do desastre | 2021

NOTA 3.5

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme 

Há muitas iscas que podem atrair a nossa atenção para um filme. Entre tantas existentes, é possível citar algumas como uma premissa curiosa, a assinatura de um diretor renomado ou, como é neste caso, um elenco que conta com atores premiados. No entanto, o que “Os Pequenos Vestígios” poderia trazer como atrativo (um trio de protagonistas vencedores do Oscar) não garante nem de longe ao espectador uma experiência satisfatória.

No arremedo de trama que deseja contar, o longa escrito e dirigido por John Lee Hancock traz um policial veterano com passado nebuloso que vai ajudar um jovem investigador em ascensão a capturar um serial killer de mulheres. Parece genérico, não? Pois é... mas nem isso o filme consegue ser.

A quantidade de furos no roteiro impressiona, a começar pelo fato de não haver na delegacia outro policial que pudesse buscar a evidência de um crime em Los Angeles que não fosse Joe ”Deke” Deacon (Denzel Washington), justamente alguém que possui questões mal resolvidas com o lugar envolvendo uma série de crimes do passado. Não há qualquer preocupação em tentar tornar plausível sua ida à cidade, já mostrando que o filme seguirá a estratégia de jogar tudo apressadamente na nossa cara para que não tenhamos tempo de detectar os “pequenos” absurdos que vão se acumulando.

Tudo no filme é atropelado. Da apresentação dos parceiros, que não passa de mais uma exploração do velho clichê da relação entre o veterano sábio cheio de fantasmas – com os quais até conversa (!) – com o novato almofadinha que ainda tem muito a aprender sobre os horrores do mundo, até a forma como procura imprimir algum lastro filosófico, com a inserção aleatória da religiosidade sempre que o roteiro lembra que “precisa” ser profundo, o longa não consegue esconder o quanto sua realização é equivocada. Não funciona como suspense, muito menos como drama psicológico.

Além do já mencionado roteiro problemático – que havia ficado guardado por trinta anos e quase caiu nas mãos de Clint Eastwood -, outro fator que ajuda na bagunça que é “Pequeno vestígios” é a sua montagem. Fazia tempos que não me deparava com um projeto de grande estúdio com um trabalho tão ruim, beirando o amadorismo em certas passagens. Só para citar um exemplo, repare na cena em que a dupla de policiais toma café na casa de Jimmy (Rami Malek). É clara ali a intenção de estreitar os laços entre os personagens e conferir-lhes alguma humanidade, mas a enorme quantidade de cortes bruscos e enquadramentos desencontrados torna um momento que era para ser de respiro na investigação algo mais frenético (no mau sentido aqui) do que qualquer sequência de luta presente num “Transformers” da vida, deixando-nos completamente desorientados. E era só um café da manhã!

E o que dizer do principal chamariz do filme, isto é, a presença de seus astros? No que tange às atuações, só Denzel Washington se salva em seu esforço hercúleo para dar alguma dignidade a Deacon, mas seu desempenho acaba sendo engolido pelo caos narrativo em que se encontra. Já sobre Jared Leto, é preciso que alguém diga ao atual Coringa que ele não é isso tudo. Mas, enquanto o cara acreditar que composição de personagem é apresentar artifícios como olheiras, uma barriga igual ao do Seu Boneco, andar como se tivesse tomado uma Benzetacil, e ainda assim isso lhe garantir indicações a prêmios, ele seguirá se achando o rei supremo do método. E, finalmente, falando do nosso glorioso Rami Malek, só posso dizer que não dá nem para chamar de atuação aquela expressão vazia que o sujeito –  que para muitos teria incorporado Freddie Mercury em “Bohemian Rhapsody” - sustenta a projeção inteira, não importando o tom da cena. Chega a ser risível em certos momentos, e vê-lo aqui só fez aumentar meu medo sobre o que ele vai apresentar como o novo vilão da franquia 007.

Por fim, pode-se dizer que “The Little Things” (no original) busca conjugar elementos de grandes thrillers como “Seven” e “Zodíaco”, seja apostando na mesma dinâmica entre detetives de gerações diferentes do primeiro, seja recriando a atmosfera de uma época específica como o segundo –  neste caso, os anos 1990. Porém, John Lee Hancock não é David Fincher, e o resultado é uma maçaroca que testa a paciência do espectador a cada nova tentativa de ser minimamente envolvente ou surpreendente. Uma pena, pois se tratava de um projeto com potencial, e trabalhos anteriores do realizador como “Fome de Poder” e “Estrada sem Lei” - um policial bem mais competente, diga-se – traziam pequenos vestígios de que se tratava de alguém capaz de realizá-lo com perícia.  


Nem Vale Ver !



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