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Humano ou mercadoria? 'O Homem que Vendeu sua Pele', tunisiano indicado ao Oscar, discute a pergunta | 2021

NOTA 8.0

Por Eduardo Machado @históriadecinema 

Quando pensamos em um filme que perpassa questões políticas e sociais espinhosas como a situação dos refugiados, a natureza da arte e as várias formas de exploração humana, pensamos em algo triste e pesado, correto? Há centenas de filmes assim, os quais, usualmente, frequentam a lista de indicados ao Oscar de melhor filme internacional. O tunisiano “O Homem que Vendeu sua Pele”, também indicado ao Oscar na categoria, não é, entretanto, desses filmes que apenas nos fazem sofrer.

Sam Ali (Yahya Mahayni), um jovem sírio apaixonado por sua namorada Abeer (Dea Liane), passa a ser perseguido em seu país, de onde é obrigado a fugir deixando tudo para trás, inclusive sua amada, que acaba se casando com um diplomata baseado em Bruxelas. Sam vive uma vida infeliz no Líbano como refugiado, sem perspectivas, até que, como diria Renato Russo, recebe uma proposta indecorosa do artista Jeffrey Godefroi (Koen De Bouw). Ele providenciará tudo para que Sam possa viajar livremente para a Bélgica. Tudo que Jeffrey pede em troca são as costas de Sam, a qual ele transformará em obra de arte.

Uma história que parece absurda, mas inspirada em uma história real, cujo peso metafórico de um passaporte tatuado nas costas de um refugiado a diretora Bem Hanya compreende bem. Mas além das questões sociais, o filme funciona sobretudo, porque ela tem o domínio de um humor perspicaz que dá equilíbrio ao longa.

O ótimo trabalho dela ainda é notável com as várias maneiras inteligentes com que distribui informações visuais de uma só vez, como quando usa um efeito de tela dividida para mostrar a oposição entre dois personagens. Também como ostensivamente coloca as costas de Sam como o centro das atenções, mas sem deixar de transparecer as emoções no rosto de seu protagonista, um homem forte, mas inevitavelmente vulnerável. 

O final otimista não contradiz um filme que mantém seu tom do início ao fim. O que pode parecer uma simples crítica ao mundo das artes, tem pretensões maiores que afetam diretamente a crise global dos refugiados. Mesmo que satiricamente.


Vale Ver!



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