Adsense Cabeçalho

Surpreendente, 'O Esquadrão Suicida ' faz justiça ao título e se estabelece como definitivo | 2021

NOTA 10

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Lançado em 2016, 'Esquadrão Suicida' dividiu opiniões e distribuiu decepções para todos os lados; estúdio, fãs das HQs, executivos, acionistas, espectadores casuais e até mesmo o próprio diretor, David Ayer, que lamenta até hoje as várias intromissões do estúdio em sua obra. A Warner aprendeu com os erros de sua experiência frustrada, deu carta branca ao novo diretor James Gunn (realizador dos dois filmes dos 'Guardiões da Galáxia', contratado pela DC após uma ocasional demissão do estúdio concorrente) e concebeu uma versão mais marombada e sanguinária do grupo de vilões heroicos, agora com uma trama que faz jus ao título que carrega e com a pose de ser aquela a se considerar oficialmente, com um artigo que dá a ela ares de definição. Eis que finalmente 'O Esquadrão Suicida' está entre nós, e cada semana de espera se fez valer com o espetáculo brilhante que a mente engenhosa e perversa de Gunn colocou em tela.


Fugindo da tendência de se prender a rótulos convencionais de sequência ou reboot, Gunn criou um ponto fora da curva e mirou nele. Temos aqui personagens que são reaproveitados do filme anterior, que retornam com seus respectivos intérpretes, e essa familiaridade arrisca gerar alguma confusão na cabeça de quem viu a versão de Ayer - mas Gunn é  astuto e não nega o filme de 2016, pelo contrário; ele o reafirma, mas faz isso apenas para ignorá-lo deliberadamente logo em seguida. O filme aqui é outro, a missão é outra, e não existe o discurso piegas à lá Toretto de que "somos uma família", como fez El Diablo naquele terceiro ato risível. Aqui o nível é mais baixo, e Amanda Waller (vivida pelo gigante talento de Viola Davis) se impõe como a força que é nos quadrinhos e animações da DC. O roteiro de Gunn é cirúrgico, dando um espaço calculado para todos terem seu brilho e cumprirem suas funções narrativas, e a qualidade dos diálogos despretensiosos (porém reveladores) que construiu pode se equiparar facilmente ao dinamismo genial de Quentin Tarantino - e até mesmo o estilo adotado aqui, com capítulos definindo recortes de cenas, lembra bastante a metodologia do diretor de 'Bastardos Inglórios' em suas tantas criações de sucesso. No entanto, as transições aqui são muito mais engenhosas e divertidas, com uma pitada de morbidez que se assume como uma assinatura de seu diretor, com os títulos dispostos em inscrições que interagem com o ambiente em redor. Em resumo, o filme é visualmente impecável tanto em qualidade de CGI como também na plenitude de sua fotografia audaciosa e interativa. Ouso arriscar indicações na vindoura temporada de premiações, que serão imensamente merecidas caso venham.

'O Esquadrão Suicida', com seu "O" no título que o distingue de seu antecessor, é o filme que esperávamos em dosagem equilibrada de sangue, humor ácido e caricaturas extravagantes, com o bônus de diversas surpresas gratificantes e reviravoltas inteligentes. James Gunn reafirma seu talento em um filme violento, cheio de absurdos, e que se vale justamente por ser assumidamente estereotipado. O bruto é bruto, o maluco é maluco e os militares são arrogantes, e isso tudo fica lindo sob a visão de Gunn, que amplifica os traços para poder fragilizá-los quando (e onde) menos se espera. O novo filme do Esquadrão é uma ópera visual de mortes, ações estúpidas e sortes pontuais, exatamente como a vida que segue do lado de cá da tela. É uma caricatura que ri de si mesma, uma ficção que se leva a sério e um eficiente ensaio sobre o fim do mundo. A propósito, a classificação indicativa alta é justíssima, e a violência gráfica permite algumas piadas que só um filme para maiores (como é nos EUA, no caso) pode proporcionar. Há muito tempo eu não gargalhava tanto no cinema. Um acerto memorável da DC, que mostrou ter mais colhões do que a concorrência e arriscou de verdade. Que venham mais filmes assim!

Vale Ver!

P.S. 1: Como foi filmado em IMAX, recomendo uma sala condizente com a tecnologia - ou que seja assistido na maior tela possível.

P.S. 2: Ao final dos créditos tem uma cena adicional importantíssima, diretamente ligada a pontos relevantes da trama e derradeiros para uma vindoura sequência. 




Nenhum comentário