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Loop temporal, testosterona e o fim do mundo em 'Mate ou Morra' | 2021

NOTA 6.0

Tiro, porrada, bomba e espadas

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Em uma definição rápida, 'Mate ou Morra' é um daqueles filmes que se propõem como "ame ou deteste" mas que são, na verdade, medianos em tudo que fazem. Não é um filme ruim e nem tampouco inassistível como tantos outros que não vale a pena nem lembrar, mas em contrapartida ele também não é bom ao ponto de se destacar entre os demais filmes em cartaz no momento. Talvez seu defeito seja misturar elementos demais para compor uma identidade própria e termina por não se definir em nada. É um filme de ação, claro, mas constantemente quer ser também como os filmes de gamers (estilo 'Free Guy', lançado há dois meses), como uma ficção científica do apocalipse (para justificar suas pataquadas e extravagâncias) e como as aventuras de looping temporal que fizeram sucesso nos anos 80 (o saudoso 'Feitiço do Tempo', de 1993). E como se já não bastasse essa crise de identidade, o longa não consegue sustentar nem sua própria coerência narrativa.

Temos o herói comum vivido por Frank Grillo narrando o filme a todo instante, com base em seus conhecimentos acerca da anomalia temporal em que se encontra, mas há cenas onde essa estrutura é totalmente ignorada para que o núcleo encabeçado por Mel Gibson seja devidamente apresentado e o conceito de uma ameaça seja estabelecido. Como resultado, temos uma história (até boa, ou pelo menos com potencial) presa em um roteiro Frankenstein. Ao assumir um design visual que remete a um videogame arcade, dava-se a entender que a tal prisão temporal teria algo a ver com algum jogo, mas era só mais uma pista falsa entre algumas outras que acabam levando o público a desanimar de descobrir o que está acontecendo junto com o protagonista. E com pequenos detalhes e algumas mirabolâncias previsíveis, o filme vai perdendo a relevância para os espectadores. É um entretenimento casual raso, que se faz limitado ao tempo da sessão e só. 

O filme acerta em cheio ao montar sua introdução. Enquanto outros filmes do tipo já deixaram a fórmula gasta e a premissa até meio batida (como 'No Limite do Amanhã', de 2014, e 'A Morte te dá Parabéns', de 2017), 'Mate ou Morra' começa com o pé na porta já com uma grande sequência de ação, pulando aquela necessidade de usar os 20 primeiros minutos para dar um contexto e dedicando seu primeiro ato a apresentar a rotina do nosso herói, para depois então explicar como ele chegou até ali. Todavia, tirando algumas cenas bem elaboradas após esse momento, o filme limita seus acertos a isso. Por isso é realmente uma pena o filme se perder em seus excessos de identidade quando poderia muito bem ter tido um polimento de roteiro que viabilizasse a concordância interna e  não  dedicasse seus esforços a apresentar o maior número de mortes fetichistas possível.

O que faz valer a pena assistir, na versão dublada, no caso, é poder contemplar esse que foi provavelmente o último trabalho de Júlio Chaves na dublagem, dando voz mais uma vez ao grande Mel Gibson. Chaves foi a voz clássica de Gibson durante décadas, e esse ano foi mais uma vítima da pandemia. É difícil mentalizar Gibson sem a voz de Chaves, e particularmente não sei se estou pronto para o estranhamento que virá com o próximo filme do ator.


Vale Ver Mas Nem Tanto!



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