Protesto e cinema de gênero se misturam em 'Madalena', destaque na Mostra SP | 2021
NOTA 8.5
Por Rogério Machado
Uma cidade localizada no interior do Mato Grosso do Sul, com casas projetadas , bairros com condomínios de luxo, grande plantações - um lugar que cresce sob as rédeas do agronegócio. A garbosa casa noturna da cidade, assim como os muitos drones usados para monitorar o plantio, contrastam como as paisagens ora verdes, ora áridas dessa região do país. É nesse cenário que aposta no cinema de gênero que o diretor Madiano Marcheti, em seu primeiro longa metragem, nos chama a pensar sobre um assunto urgente no Brasil: a morte de maneira criminosa de travestis e transexuais.
'Madalena', que teve première no Festival de Roterdã, venceu os Festivais de Istambul e Inffinito Film Festival, passou pelo Festival de San Sebastián, considerado o evento de cinema de língua espanhola mais importante do mundo, e que finalmente chega ao seu país de origem através da Mostra SP, opta pelo recurso fantástico para narrar a história de uma trans morta pelo ódio e intolerância. É notável que o suposto assassino possa ter sido um caso de Madalena e o medo em ser descoberto fez com que o algoz optasse por caminhos extremos para sufocar seus desejos mais obscuros.
Em entrevista, o cineasta, que cresceu no interior do MS e conhece a realidade desse lugar de perto, disse que o primeiro desejo era mostrar um Brasil esquecido (até pelo cinema em si, já que é raro vermos produções dessa parte do país) e como ser LGBTQIA+ nessa região é muito mais desafiador. Marcheti capta com precisão o ambiente hostil e machista do lugar e lança um olhar que evoca suspense e fantasia, mas ao mesmo tempo é pulsante enquanto cinema protesto.
É interessante notar a construção nada óbvia do longa: a iniciativa de não apresentar a personagem título e além disso omitir sua trajetória até o último momento com seu agressor, só faz reforçar nossa curiosidade a respeito de Madalena e sua morte; e a mensagem vai se revelando aos poucos diante do espectador de maneira inteligente e misteriosa. 'Madalena' grita a favor de uma minoria que morre todos os dias sem precisar ser literal no discurso - desconheço melhor forma de fazer pensar.
Vale Ver!
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