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'A Última Noite' : Uma comédia sombria sobre um Natal diferente | 2021

NOTA 7.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Tramas natalinas são o que há de mais comum no mês de dezembro, seja pela razão óbvia da proximidade do feriado mais importante do ocidente, mas também pelo caráter reflexivo que o Natal provoca. Não é a toa que essas obras são permeadas de mensagens edificantes com exemplos de esperança, perseverança, união, redenção e todo o tipo de clichês possíveis. Algumas delas, muitas vezes partindo da mesma premissa, subvertem essa lógica ressignificando a data e assumindo uma identidade mais cética, sombria e provocativa. Assim é ‘A Última Noite’.

Dirigido pela estreante em longas Camille Griffin, acompanhamos o casal Nell e Simon que se preparam para, junto com família e amigos realizarem sua última ceia de Natal. Em meio a um desastre eminente devido a uma nuvem de gás venenosa que atinge a humanidade, diferentes reações colocam o grupo em conflito enquanto refletem sobre suas vidas e a chegada do inevitável fim.

Tendo como ponto de partida os preparativos para o evento, o enredo não perde tempo ao apresentar cada personagem já nos seus primeiros minutos, e com uma montagem ágil coloca cada indivíduo no seu devido lugar na trama. O filme opta por deixar de lado qualquer aspecto de origem dos acontecimentos externos e foca exclusivamente nos dramas e dilemas do grupo, colocando em primeiro plano os diálogos, dando as atuações pelo menos um momento de destaque para cada um. Apesar do tempo de tela ser bem equilibrado, as atuações não são nada além de regulares, exceto pela ótima performance de Keira Knightley que carrega todo o protagonismo consigo e é a ponte para toda a carga emocional necessária, especialmente na primeira metade onde mesmo flertando com o drama, prevalece um tom de comédia satírica tipicamente britânica, porém com um teor sombrio, quase macabro. 

Durante toda a rodagem é possível identificar um alinhamento com temas muito atuais, o que abre a discussão sobre questões éticas globais até intimas e existencialistas. O uso dessa metalinguagem é muito presente e inventiva no desenvolvimento dos personagens, sendo possível traçar um paralelo da progressão narrativa com os estágios do luto; Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação.

Com a proximidade do terceiro ato, o filme tenta uma ruptura ao estabelecer um drama na forma mais estrita do termo, entretanto essa transição é abrupta e destoa de tudo que havia sido apresentado até então. Toda sutileza dos diálogos ácidos do início dá lugar a uma verborragia que mais nos afasta do que aproxima dos envolvidos. O roteiro parece passar por uma crise de identidade em que não sabe o que é, mas infelizmente se tornando previsível o suficiente para todos saberem para onde vai.

'A Última Noite' é irregular e desequilibrado, mas tem bom elenco e é corajoso o suficiente para nos apresentar novas perspectivas e nos proporcionar uma experiência no mínimo diferente.


Vale Ver! 



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