'O Beco do Pesadelo' : Del Toro usa o suspense para tratar das imperfeições humanas | 2022
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
Hoje muito se fala de 'referência' para colocar o cinema numa caixinha. Seja por críticos experientes ou mesmo por entusiastas da sétima arte, a palavra é sempre usada e não raras vezes banalizada para fazer com que determinada obra se encaixe em moldes estabelecidos por um ou outro. 'O Beco do Pesadelo', novo filme do cineasta Guilhermo Del Toro ('O Labirinto do Fauno' - 2006 , 'A Forma da Água' - 2017) que acaba de chegas às salas, bebe sim de referências, mas ao invés de definir sua nova empreitada cinematográfica, a palavra vem mais para evidenciar algumas homenagens, que vão desde o charmoso Cinema Noir, passando por mestres como Alfred Hitchcock ou mesmo Tim Burton.
A trama acompanha o carismático e um tanto azarado Stanton Carlisle (Bradley Cooper), que ao chegar em uma vila com espetáculos itinerantes, se torna querido para a vidente Zeena (Toni Collette) e o seu marido mentalista Pete (David Strathairn). Ele ganha um bilhete dourado para o sucesso, usando o conhecimento adquirido com eles para ludibriar a elite rica da sociedade de Nova Iorque dos anos 1940. Com a virtuosa e apaixonante Molly (Rooney Mara) lealmente ao seu lado, Stanton então faz planos de enganar um magnata perigoso com a ajuda de uma psiquiatra misteriosa, Lilith Ritter (Cate Blanchett), que pode vir a ser sua maior adversária.
O longa que é baseado na obra “O Beco das ilusões Perdidas”, publicada em 1946 pelo autor William Lindsay Gresham, tem a marca de seu realizador mas ao mesmo tempo traços de reinvenção - o mix de gêneros bem trabalhados de forma altamente coesa é mais um passo bem firme dado por Del Toro, que consegue colocar seu projeto em um lugar que transita entre o Thriller Noir, o drama e ainda flerta com o cinema de horror. A maneira sombria e lúdica como o circo é retratado na trama é de um charme sem tamanho, e ao mesmo tempo que causa apreensão, nos conecta a cada um dos personagens, esses muito atraentes, misteriosos e brilhantemente defendidos por estrelas escolhidas a dedo pelo cineasta.
A preocupação de Del Toro com a mensagem é nítida, mas o foco em tocar em assuntos como ambição desenfreada, fome de poder e o culto ao bizarro evoluem de maneira orgânica e ainda costurados por um texto primoroso, - principalmente ente a Dra. Lilith Ritter e o ambicioso Stanton -, só somam forças para a crescente de mistério que permeia as quase 2h e 30min de projeção. É claro que devo confessar que a atmosfera circense do primeiro ato me pareceu mais atraente que as sequências onde Stanton cria asas em seus desejos nefastos, mas ainda sim por todo clima mantido com extrema elegância ou mesmo por mais uma aula de cinema do cineasta mexicano, que 'O Beco do Pesadelo' há de se estabelecer como um dos grandes projetos trazidos ao público esse ano.
Vale Ver!
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