Adsense Cabeçalho

'Munique: No Limite da Guerra' narra a batalha diplomática que antecedeu um dos maiores conflitos da História | 2022

NOTA 7.0

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme

Soa como uma aterradora coincidência que, justamente no período em que “Munique: No Limite da Guerra” chega ao catálogo da Netflix, o noticiário internacional seja dominado pela cobertura das tensões envolvendo Ucrânia e Rússia. Afinal, fica difícil não pensar na visita do Primeiro Ministro britânico Boris Johnson a Vladimir Putin esta semana, na tentativa de evitar o que alguns jornais chamaram de “banho de sangue”, enquanto acompanhamos Neville Chamberlain, titular do cargo em 1938, gastando saliva para impedir que Hitler invada a então Tchecoslováquia, fato este que ajudaria a deflagrar no ano seguinte nada menos do que a Segunda Guerra Mundial. Em ambos os casos, temos um premier em busca de um “compromisso diplomático”, sem perceber que homens sedentos por poder ignoram tal conceito.

O longa de Christian Schwochow não está interessado nos conflitos bélicos que mudaram os rumos da História entre os anos de 1939 e 1945, mas sim nos seus preâmbulos. E o faz através da contraposição de dois amigos, um inglês e um alemão, que estudaram juntos na universidade de Oxford e que se afastaram devido a divergências políticas. Em alguma medida Hugh e Paul, personagens interpretados por George Mackay e Jannis Niewöhner, são uma metonímia dos grandes eventos que os cercam. Mesmo que ambos possuam personalidades diferentes – enquanto um é especialista na arte do debate, o outro é um homem de ação – os interesses em comum farão com que eles se reaproximem e acabem até se complementando.

A primeira hora é um tanto arrastada, pois falta ao roteiro de Robert Harris (autor do livro no qual o filme se baseia) e Ben Power a capacidade de condensar determinados trechos, como os que colocam Hugh como um chefe de família ausente devido ao seu senso de dever, aspecto este que é abandonado na segunda (e melhor) metade do filme. Além disso, é perceptível – e até compreensível – o encanto do diretor por contar em seu elenco com o grande Jeremy Irons na pele de Chamberlain. Basta observar, por exemplo, como ele é filmado de forma imponente, iluminado com uma aura quase divina em sua primeira aparição. Fora as muitas passagens em que veterano ator solta frases que parecem retiradas de discursos de palanque ou dá lições de diplomacia a um sempre atento Hugh.

Já em sua segunda metade, a narrativa finalmente imprime a tensão própria de um bom thriller de espionagem, sobretudo quando surge a figura ameaçadora de Franz Sauer (August Diehl em papel semelhante ao que viveu em “Bastardos Inglórios”), acréscimo este que torna a experiência bem mais envolvente. É neste momento também que a interação entre Hugh e Paul ganha contornos mais dramáticos e o espectador passa a temer seriamente por eles.

Embora aborde fatos dos quais todos já saibam o desfecho – isto é, haverá sim uma guerra – “Munich: The Edge of War” (no original) é sagaz ao apresentar os bastidores da batalha diplomática que antecede um dos mais devastadores conflitos que a humanidade já testemunhou. Um tanto inchado no desenvolvimento das facetas de seus protagonistas, evolui e ganha ritmo à medida em que os coloca finalmente para enfrentar suas diferenças em prol de um objetivo maior. Se não chega a ser uma obra que chame a atenção por conta de sua estética, ao menos mantém o nosso interesse por se relacionar diretamente com o medo atual de um novo confronto motivado por desejos expansionistas, mostrando que, em se tratando de política internacional, as peças podem até mudar, mas o jogo segue sendo o mesmo. 


Vale Ver!



Nenhum comentário