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'Attica': uma história escrita com sangue | 2022

NOTA 9.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica

Em setembro de 1971, detentos tomaram a prisão de Attica alegando maus tratos e exigindo melhores condições sanitárias e de segurança. Em meio a negociações frustradas e um clima de tensão crescente, era dado início a maior rebelião da história dos EUA até então.

Dirigido por Stanley Nelson e Traci A. Curry, o longa é um dos indicados na categoria de melhor documentário para o Oscar 2022, um reconhecimento mais do que merecido já que embora raro para esse gênero, a tensão narrativa é constante desde os minutos iniciais, facilitando assim o envolvimento mesmo para aqueles que conhecem e sabem dos eventos ocorridos. 

Apesar de tradicional em sua estrutura, utilizando de entrevistas com os envolvidos direta e indiretamente, imagens de arquivo editadas e exibidas ao longo dos relatos, “Attica” em nenhum momento apela para o sentimentalismo, mesmo dando total liberdade para passagens mais emotivas dos que lá viveram e foram afetados pela tragédia, mas sempre na dose certa mantendo os fatos em primeiro plano. 

Em uma época de ativismo político muito presente no cotidiano norte-americano, em parte devido aos reflexos dos ideais propagados na turbulenta e revolucionária década de 60, o ocorrido naquele triste outono não passou despercebido, mobilizando políticos e importantes figuras da sociedade civil. Muito embora a obra tenha um direcionamento claro e objetivo, inclusive em relação aos responsáveis, a produção, seja por uma decisão criativa ou não, opta por não se aprofundar na repercussão externa do cidadão comum,  gerando certo estranhamento pois sabemos que houve uma grande comoção e a mídia acompanhou em tempo real, entretanto muito pouco desse impacto é sentido para além das câmeras. Há algumas cenas e lembranças de parentes dos funcionários da instituição e nos é contado um breve histórico da comunidade que se desenvolveu em torno do complexo penitenciário, onde moravam boa parte dos que lá trabalhavam, com isso é possível pensar numa banalidade do mal que rodeava o local, contudo não passa da superfície e nada é aprofundado nesse sentido.

Sem precisar parecer didático, durante toda rodagem conhecemos os detalhes e o contexto do que viria a ser uma calamidade de grandes proporções que marcou e destruiu vidas, um passado que visto de hoje soa tão presente, retrato de um sistema punitivista ainda vigente que nos obriga de tempos em tempos a repetir o óbvio.


Super Vale Ver!



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