'Sem Saída' : um thriller investigativo que pouco desafia | 2022
NOTA 6.0
Por Maurício Stertz @outrocinéfilo
Com a quantidade de catálogos de streamings em atual progressão geométrica, existe em paralelo uma iniciativa por criar conteúdos originais que os diferenciem entre si, tentando fugir do aspecto “lavado” de tudo que é reciclado com facilidade. 'Sem Saída' é o exemplo de uma investida recente, mesmo que com a divulgação sorrateira possa ter passado despercebido.
Com uma trama descomplicada nas mãos, baseada no livro homônimo escrito por Taylor Adams, a narrativa acompanha Darby (Havana Rose Liu), uma dependente química em recuperação que se vê obrigada a parar em uma estação durante uma nevasca que interrompe as rodovias. Com problemas relacionais com sua família, mencionados aqui e ali, pretende chegar a tempo de visitar sua mãe no hospital.
O mais interessante em 'Sem Saída' é a sensação de localização, fruto de uma montagem que mantém, por óbvio, a ação em um curto espaço físico – a estação. À primeira vista, a premissa lembra o recente 'Os Oito Odiados', filme de Quentin Tarantino em que, destrinchados os diálogos carregados de acusações e farpas bem-postas, é um estudo de localidade num ambiente com pessoas também reféns dos caprichos da natureza.
Quando Darby sai a procura de sinal para seu telefone, encontra uma garota escondida dentro de uma van e recebemos o primeiro conflito do filme. Esta guinada brusca (já entregue pela sinopse que se esforça em estragar a experiência), prontamente coloca o espectador como investigador. Se são poucos os suspeitos, não deve ser difícil encontrar os malfeitores da história. A narrativa, porém, trilha em descompasso para deixar claro que a investigação em curso não é o mais importante. Ora, se são apenas quatro possibilidades, a busca era realmente fácil e, por isso, desinteressante para nós, Sherlocks.
Tudo parece se resolver numa primeira reunião dos personagens quando decidem jogar “Mentira”, traduzido do inglês, grosso modo, em que é preciso descobrir quem está mentindo sobre as cartas que têm nas mãos, uma forma de apontar àqueles mais confortáveis ao enganar. Então, cada um dos personagens se veste em clichês e convenções já vistos em tantos filmes, deixando claro nos trejeitos quem devemos elencar como suspeitos.
A escolha pelo culpado é óbvia ou é apenas um blefe da direção que sabe o quanto somos suscetíveis à sua manipulação? Esse é um dos pontos que mais me interessaram na direção de Damien Power aqui, ao contornar e fazer pensar se existe, de fato, essa investigação que, aparentemente, já ‘nasceu’ resolvida. Mas dizer que a obviedade não faz parte da vida e por consequência do cinema seria ingênuo da minha parte.
Embora o whodunit, termo utilizado para as narrativas investigativas que tem seu ápice em descobrir “quem” cometeu certos crimes, famoso nas mãos de Agatha Christie na literatura e no cinema com Alfred Hitchcock, seja deixado de lado, a opção é acertada pelo isolamento por que passam os personagens. Como não existe possibilidades de contato com o exterior, Darby precisa encontrar as soluções ali mesmo, sozinha, talvez sem confiar em ninguém, mas já ciente de todo o cenário que a cerca, os culpados e as vítimas.
'Sem Saída' é um filme que entende seu potencial e por isso explora uma linearidade narrativa menos complexa, uma inspiração nos filmes consolidados nos anos 1990, deixando de lado o textual para que possa gastar mais tempo com a ação. Se contenta em emular uma caçada física em pouco espaço, com toques ao cinema de John Carpenter em 'Assalto à 13ªDP' (1976), ao testar a atmosfera do Nós contra Eles, bem delimitados nos maniqueísmos jogados à nós pela lógica cinematográfica que se cria sobre a neve.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
Deixe seu Comentário: