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O ambicioso “Alemão 2” combina ação com denúncia à corrupção estatal | 2022

NOTA 7.0 

Por Eduardo Machado @históriadecinema

De “Cidade de Deus” a “Tropa de Elite”, o cinema brasileiro dos anos 2000 foi prolífico no lançamento de longas metragem do gênero policial ambientado nas favelas do Rio de Janeiro. “Alemão”, de 2014, veio nessa leva. “Alemão 2”, entretanto, se assume como um filme maior do que as trocas de tiro, que são muitas, podem supor. Afinal, a vida do favelado não pode se resumir a balas perdidas.

Situado alguns anos depois da ocupação do complexo do alemão pelas forças policiais, pouco mudou na comunidade. A pacificação, por meio da instalação das UPPs, ficou no discurso, pois, a real, é que o povo preto e pobre nunca deixou de ser alvo. No mesmo passo, é difícil até dizer que as UPPs fracassaram, pois tudo parece ser parte de um projeto para alimentar o bolso de alguns poucos em detrimento da população favelada.

Por isso a ideia de um filme que tenta extrapolar a ótica policial e propor um debate mais profundo é tão bem-vindo. Nesse ponto, um dos grandes acertos do filme é a representatividade do seu elenco. O clichê “policiais brancos x traficantes negros”, reconhecidamente obsoleto, é deixado de lado, em troca, supostamente, de um elenco com uma representatividade maior e personagens com mais profundidade.

De fato, o projeto conta com um elenco mais plural e oferece palco a gente trabalhadora da comunidade que só quer chegar ao trabalho sem precisar correr de tiro. O ambicioso projeto, todavia, carece de reparos no que se refere à estrutura política e criminosa que, ao que tudo indica, se almejava denunciar.

As milícias representam o problema de segurança pública mais grave do Rio de Janeiro atualmente, especialmente por estar intrincada com as relações de poder e ser nascida da corrupção estatal. Ocorre que o filme deixa de atacar o cerne da questão, limitando-se a uma denúncia genérica de corrupção policial, sem mexer no vespeiro.

Ainda quanto ao roteiro, há subtramas como a de Mariana, elo com o filme de 2014, que são pouco elaboradas e parecem absolutamente descartáveis para o longa. O filme, então, somente não perde ritmo, porque se sustenta no trabalho de primeira linha do diretor José Eduardo Belmonte, que, mesmo diante de um roteiro errático, consegue combinar o debate social em ritmo de cinema de ação dos bons. 


Vale Ver!




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