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'Morbius' é uma salada de reciclagens temperada com leve tom de saudosismo | 2022

NOTA 6.0

Violência velada e sangue artificial

Por Vinícius Martins @cinemarcante

Um dos traços mais louváveis (e talvez mais irritantes aos colegas de elenco, como relatado nos bastidores de 'Esquadrão Suicida', de 2016) é o empenho metódico que Jared Leto emprega para entregar seus trabalhos de atuação. Depois de um injusto título de Pior Ator Coadjuvante no Framboesa de Ouro 2022 por sua performance em 'Casa Gucci', chegou a vez de vê-lo dar vida ao doutor Michael Morbius na tantas vezes adiada adaptação dos quadrinhos da Marvel, que chega aos cinemas sob a distribuição da Sony, detentora dos direitos cinematográficos também de Venom e do Homem-Aranha. 'Morbius' era uma promessa de Leto ao entretenimento com o início de uma nova franquia, contudo o que temos agora diante de nós uma obra que é fruto da entrega total de seu intérprete protagonista que pouco se vale pela falta de equilíbrio na produção,  que peca por sua abordagem retrógrada insistindo em recorrer a algumas facilitações.


O filme não se ocupa e nem se preocupa em esconder suas cafonices e sua previsibilidade; tanto é que o vilão se revela de maneira banal ao "herói", colocando o público mais acostumado a tramas assim em uma impressão cretina de estar revendo algum outro filme. Além da clara sensação de reuso, não há espaço para uma dissolução das camadas da trama simplesmente porque aqui não existem camadas a serem dissecadas. Tudo é simplório e didático em nível escolar, mesmo embora o longa não seja direcionado a esse público. Como resultado,
'Morbius' tem todos os méritos de um filme apático, desprovido de carisma e qualquer caráter de inovação - ou talvez seja o público que tenha se acostumado com o padrão Marvel e a estranheza venha de qualquer coisa derivada da marca que não mantenha esse teor de qualidade. Seu sumo é a mais pura sopa dos filmes dos anos 1990 e 2000, e isso o faz parecer estar pelo menos uns 15 anos atrasado. Nada parece novo, tudo parece reciclado. Contudo, não é justo dizer que o filme é ruim; ele apenas não é bom, isto é, para os padrões atuais de filmes baseados em HQs.

Duas coisas me chamaram a atenção e ficaram na minha cabeça quando saí da sessão: a primeira delas foi a trilha sonora, que em uma cena específica parece emular as mesmas notas que Hans Zimmer compôs para a trilha do Batman de Christian Bale. A cena em questão mostra Michael Morbius em um tanque vertical, rodeado de morcegos que parecem recebê-lo como um deus, e as notas em muito se assemelham ao ressurgimento do Batman do poço em 'O Cavaleiro Das Trevas Ressurge' (2012). Se foi proposital ou acidental realmente não sei dizer; poderia ser uma homenagem, uma referência ou apenas simplesmente um descuido da pós produção, que plagiou o tom épico do terceiro Batman de Christopher Nolan já que a temática deste de agora também gira ao redor de morcegos. O segundo ponto que me chamou atenção foi uma incoerência da cena pós créditos, que, sem entregar spoilers, justifica a apresentação de um personagem mas não justifica a tecnologia que ele usa, uma vez que Tony Stark não faz parte do mesmo universo de Venom/Ed Brock e Michael Morbius.

'Morbius' é trágico e quase shakespeariano, mas não funciona nem de um modo e nem de outro. É um filme totalmente esquecível e definitivamente mediano, que tenta ser mais do que realmente é para se colocar no panteão das grandes obras atuais. Entre traições e assassinatos cometidos entre amigos, debates sobre bênçãos e maldições e cenas bregas de dancinha no espelho recheadas com caretas encapetadas (sim, Matt Smith, estou falando de você), 'Morbius' é apenas mais um dentre vários que prometem e não cumprem. Ele se faz bacana talvez - e em um talvez bem destacado - pelo empenho de Jared Leto em fazer a coisa toda acontecer, e é só. 


Vale Ver Mas Nem Tanto!



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