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'Paris, 13º Distrito' : filme de Jacques Audiard é uma ode aos amores solitários | 2022

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

O cineasta Jacques Audiard (dos belos 'Ferrugem e Osso' - 2013 e 'Dheepan - O Refúgio' - 2015), contou numa entrevista que depois de algumas ideias e sem que percebesse sentiu o desejo de falar de amor, e ainda uma pergunta surgiu: ”quando e como se falar sobre o amor nos dias de hoje?” Dessa forma, o diretor e roteirista  francês define a gênese de seu novo projeto que chega aos cinemas essa semana.  O longa tem um olhar reverente e melancólico sobre as relações em tempos modernos. 

Na história, Émilie (Lucie Zhang), depois de colocar um anúncio para dividir apartamento, conhece Camille (Makita Samba) que se sente atraído por Nora (Noémie Merlant), depois de largar o docência numa faculdade e ir trabalhar com ela em uma imobiliária, mas Nora conhece Amber (Jehnny Beth) depois de um grande mal entendido e passa a se sentir atraída por ela.  Três mulheres  e um homem - Eles são amigos, às vezes amantes e, frequentemente, os dois. A história se desenvolve sob as nuances do amor moderno, e dos laços de amizade entre os jovens de hoje. 

O olhar de um realizador pode definir os rumos e a desenvoltura de uma determinada trama, e sem dúvida alguma é o olhar clínico de um cineasta como Audiard que separa 'Paris, 13º Distrito' de qualquer outra empreitada que escolha falar de amor ou da ausência dele. A começar pela opção de filmar em preto e branco e apostar nesses contrastes entre luz e sombra que conferem refinamento a ângulos absolutamente simples e triviais. É incrível a especiosidade alcançada pelo realizador em parceria com o diretor de fotografia Paul Guilhaume, que brinca com os recursos desse modo de filmar. 

Outra escolha fora da curva é lançar luz sobre o 13º distrito de Paris, que é conhecido como a 'Chinatown de Paris': sai a capital francesa iluminada e romântica e entra em cena um lugar sem apelo turístico, de gente que precisa ralar para viver o dia seguinte, que dá suas 'cabeçadas' para reverter situações adversas, quase sempre pautadas na péssima qualidade de vida ou da falta de oportunidade de trabalho, ou ainda da frieza das relações, e como a solidão e carência parecem ser uma canção entoada em conjunto pelos protagonistas dessa história de rara beleza. 

A solidão em tempos de amores frios, líquidos e relações rasas. Temas conduzidos com elegância, tendo como pano de fundo a Cidade Luz, que aqui ao invés de embalar amores de tirar o fôlego, insere personagens que apenas vislumbram o sonho de um amor ou mesmo de uma vida melhor. É claro que Audiard percorre essas histórias com um olhar carinhoso e cheio de otimismo; a cereja do bolo de 'Paris, 13º Distrito'.


Vale Ver!



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