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'O Peso do Talento' Nicolas Cage propõe reflexão sobre a profissão do ator e do estrelismo que cerca o ofício | 2022

NOTA 7.5

Por Rogério Machado 

Em cena, numa sala que parece ser a de uma psicóloga, estão Nicolas Cage e sua filha em uma sessão em dupla, onde a menina relatava sobre as vontades do pai e seus esforços em fazer com que essas vontades fossem as dela também. No meio de toda conversa sobre ego e outras coisas mais, ele diz em alto e bom som a frase: 'eu não me importo com a carreira, eu só quero ter trabalho e poder me sustentar e sustentar minha família,  o que eu sei fazer é ser ator...' 

Sim, essa é uma história que parafraseia a vida e obra da lenda (como o longa se refere à ele em diversos momentos) Nicolas Cage. A relação do ator com o sucesso assim como a decadência, - seja em âmbito profissional, com filmes de cunho duvidoso somente para gerar cachê, ou mesmo pessoal, em episódios de brigas e bebedeira -, fazem da produção uma grande crítica aos maus caminhos tomados pelo astro. Nada melhor do rir de si mesmo para gerar reflexão e aliviar  o tal peso do talento proposto no título. 


Desolado e sem rumo por não conseguir mais grandes papéis como antes, insatisfeito com a vida e prestes a pedir falência, Nicolas Cage chega no fundo do poço e se mete em uma aventura que vai além  dos papéis que um dia já viveu. Após correr atrás de diretores renomados, implorando um personagem e não obtendo sucesso, Cage acaba aceitando US$ 1 milhão para uma empreitada inusitada. O dinheiro vem de Javi (Pedro Pascal), um cinéfilo superfã e fanático pelo ator, mas extremamente perigoso. As coisas tomam um rumo inesperado quando Cage é recrutado por uma agente da CIA (Tiffany Haddish) e forçado a viver de acordo com sua própria lenda, canalizando seus personagens mais icônicos e amados na tela para salvar a si mesmo, e por sua vez sua filha e esposa. Com uma carreira construída para este momento, o experiente ator deve assumir o maior papel de sua vida : ele mesmo. 

Dessa forma, e de maneira muito natural, a narrativa proposta pela direção de Tom Gormican ('Namoro ou Liberdade' - 2015) lança mão de diversas referências aos grandes filmes estrelados por Cage, com direito a um alter ego que vez por outra aparece para aconselhá-lo (ou tirá-lo do sério?), a fim de celebrar ou mesmo passar a limpo a carreira do ator que tanto é festejado quanto esnobado por Hollywood. Tudo conduzido com muita ironia e humor refinado - o pulo do gato da produção.  

'O Peso do Talento' se estabelece como filmes dentro de um filme, e entre as nuances expandidas durante a projeção está uma homenagem aos 100 anos de cinema, reverenciando clássicos da sétima arte como 'O Gabinete do Dr. Caligari' (1920), de Robert Wiene, um marco do expressionismo alemão. Além de pequenas abordagens que estendem o debate sobre o que é ou não é arte, ou ainda se bilheteria é sinônimo de sucesso. Entre ação e reflexão, acredito que 'O Peso do Talento' seja um ruminar da trajetória de Cage, mas que não passa perto da pretensão ou do kitsch - que venham mais e mais bons exemplos que demonstrem que a nuvem negra sobre a carreira desse ícone passou, e acaso ela retorne, que ele saiba se reinventar como faz nessa produção. 


Vale Ver!




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