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'Spiderhead' questiona a intervenção da ciência no livre arbítrio | 2022

NOTA 6.5

Por Karina Massud @cinemassud 

Adaptado de “Escape from Spiderhead”, conto do escritor americano George Saunders publicado na revista “The New Yorker” em 2010 (disponível gratuitamente on-line),  “Spiderhead” é o novo longa de ficção da Netflix sobre experiências com a mente de condenados numa prisão especial. Os detentos aceitam cumprir pena em Spiderhead, uma penitenciária com certas regalias como transitar livremente por todo o prédio, comer bem e se relacionar com os outros presos; e em troca são cobaias de laboratório, submetendo-se a testes com drogas psiquiátricas que mexem nas emoções. Eles permutam um pouco de liberdade física por uma prisão mental, o que ao longo do tempo não se mostra tão vantajoso assim.  Esse é um mundo distópico que não difere muito do qual vivemos, afinal de contas, é sabido por todos que nos EUA a indústria farmacêutica testa há bastante tempo novas drogas em pessoas mediante contrato e pagamento. 

Chris Hemsworth (o Thor, e evidente chamariz do filme) é Steve Abnesti, um cientista megalomaníaco que conduz os testes com a ajuda do seu assistente- ele esbugalha tanto os olhos e se esforça tanto pra se expressar que beira uma caricatura de cientista maluco.  A carga dramática fica por conta dos atores Miles Teller e Jurnee Smollett , os detentos-cobaias Jeff e Rachel que, apesar da prisão confortável, vivem sob a insegurança emocional dos experimentos. 

A trilha sonora é muito boa: “The Logical Song” do Supertramp abre o longa mostrando a dicotomia entre a exatidão da ciência e o terreno desconhecido dos testes, junto de “She Blinded Me With Science” (Thomas Dolby), “More Than This” (Roxy Music), “What a Fool Believes” (The Doobie Brothers),  são canções que compensam a pobreza da produção das salas do laboratório, que só tem um pequeno painel de controles e uma margarida na mesa de centro.

Joseph Kosinski (“Top Gun: Maverick”) dirige e dá ao filme um tom mais light e pasteurizado que o conto de Saunders; a prisão fica numa ilha com um mar lindo onde correm lanchas e aviões, o cientista de Hemsworth parece ser um playboy que faz tudo por vaidade própria, e os crimes cometidos pelos detentos são bem menos violentos. O roteiro é de Rhett Reese e Paul Wernick (“Deadpool” e “Zumbilândia”) e deixa bastante a desejar, pois eles não conseguem a façanha de estender as dez ótimas páginas do conto original para 1h47min de filme.

Os limites da mente são desconhecidos, um simples medicamento pode mudar o que você sente e consequentemente as escolhas que você faz. A droga injetada nos presos tem vários objetivos, como provocar amor, tesão louco, fobia, fome insaciável e até a depressão mais profunda e sombria – emoções extremas e por isso mesmo perigosas. Num minuto você ama loucamente a pessoa que está a sua frente e no minuto seguinte ela lhe é indiferente, como num passe de mágica.  Nessas sequências dos testes estava a chance de “Spiderhead” ser um grande thriller psicológico, pois é nelas que está a polêmica sobre mexer quimicamente com o livre arbítrio. No entanto o que vemos é uma história que tinha potencial pra ser um pesadelo dos bons desperdiçada. A Netflix podia ter caprichado mais.


Vale Ver Mas Nem Tanto! 




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