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'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo': ousado no conceito e arrojado na estrutura, longa estrelado por Michelle Yeoh é mais um acerto da A24 | 2022

NOTA 9.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O cinema como um lugar onde tudo é possível sem dúvida é uma das maiores maravilhas da sétima arte, dito isso, a dupla de cineastas Daniel Kwan e Daniel Scheinert mostraram sua vocação para o absurdo já na estreia em 2016 ao retratarem uma improvável amizade entre um potencial suicida e um cadáver na surreal comédia dramática 'Swiss Army Man'. Mais uma vez a frente na direção e de volta a insanidade que lhes é característica, ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ chega com uma incomum mistura de gêneros e uma abordagem que vai pegar muita gente de surpresa, seja para o bem ou para o mal. Nessa loucura que mais parece uma versão alternativa de ‘O Tigre e Dragão’ com toques de ‘Matrix’ e pitadas de ‘Dr. Estranho’, a criatividade dá o tom em um dos projetos mais audaciosos dos últimos anos.

Na trama acompanhamos Evelyn Wang (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa e dona de uma lavanderia que enfrenta graves problemas financeiros e familiares. Quando uma ruptura interdimensional bagunça a realidade, Wang precisa usar seus novos poderes para salvar o destino de todos.

O conceito de multiverso é rico em conteúdo, mas fora do circuito Marvel de entretenimento há grandes chances de se tornar proibitivo dado sua complexidade, e daí talvez tenha origem o maior mérito de ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’, ao conduzir as explicações de uma forma ágil e pouco expositiva, entregando na maioria das vezes à ação e ao humor, os principais elementos que dão razão às motivações dos personagens. A montagem apesar de muito engenhosa, dita um ritmo frenético que pode cansar, especialmente no terceiro ato, motivo pelo qual o filme se beneficiaria com no mínimo uns 20 minutos a menos. 

A diversidade temática aliada as muitas possibilidades proporcionadas por versões alternativas de um mesmo personagem potencializam certos arcos ao mesmo tempo que enfraquecem outros. Enquanto o drama familiar ganha camadas através de símbolos e boas metáforas, essa mesma problemática sofre uma queda significativa no terço final, fator que afeta principalmente a dinâmica de mãe e filha ao recorrer a clichês batidos e diálogos repetitivos que pouco ou nada acrescentam à trama para além do que já havia sido dito.

O elenco é soberbo! Michelle Yeoh oferece um espetáculo de atuação na melhor performance da carreira. Desde a fisicalidade, muito demandada pelo papel, até aspectos sutis de caráter mais reflexivo encontram a medida certa de modo a jamais cair no exagero ou cansaço, dito isso, a atriz tem chances reais de figurar entre as surpresas do ano na temporada de premiações. Outra menção digna de nota é Ke Huy Quan, popularmente conhecido por seu personagem 'Data’ no popular clássico da sessão da tarde ‘Os Gonnies’. Aqui, o ator vietnamita esbanja carisma e bom humor sem cair no caricato. Stephanie Hsu como de costume demonstra habilidade ao trafegar entre o trágico e o cômico, assim como Jamie Lee Curtis, em perfeita forma na pele de uma 'antagonista' com referências que os fãs de 'Halloween' vão adorar.

Não é de hoje que a A24 se destaca na indústria cinematográfica, grande parte devido a notável liberdade criativa dada aos realizadores, projetando assim um hype a qualquer trabalho associado ao nome da produtora. Efeito esse que ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ já vem gerando graças a recepção muito positiva de público e crítica por onde passou, contudo, uma certa cautela é sempre recomendável quando o assunto é expectativa. Por fim, apenas curta a viagem e se faça valer de uma boa dose de desapego à racionalidade. Acredite, você vai precisar.


Super Vale Ver!



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