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'A Hora do Desespero' faz jus ao título que ostenta | 2022

NOTA 5.0

Por Karina Massud @cinemassud 

A premissa de “A Hora do Desespero” é muito atrativa: Amy Carr é uma viúva recente que está lutando pra que a vida dela e dos seus dois filhos volte ao normal depois da morte trágica do marido. Num dia de folga ela deixa a filha pequena na escola e o filho adolescente em casa e sai pra correr numa floresta longínqua. É quando começam a chegar notícias de que houve um tiroteio na escola do filho e que ele pode estar entre os reféns. Amy está a quilômetros de distância e não consegue voltar facilmente, a trama se passa nesse caminho, enquanto ela tenta sair de lá e resolver o drama pelo celular. 

É curioso que um filme com um bom diretor, Phillip Noyce (“O Santo”, “Jogos Patrióticos”, “Perigo Real e Imediato), com uma ótima atriz , Naomi Watts, e uma boa história tenha dado errado. Nas primeiras cenas das tomadas aéreas na floresta, com Amy relembrando o falecido marido numa linda cachoeira, vivendo a dor de não saber como seguir em frente e logo depois a agonia por notícias do filho indicam que teremos uma boa produção. Mas que nada, tão perdido quanto a protagonista está o diretor que não sabe onde focar a narrativa: se nas dúvidas da mãe, se nos seguidos telefonemas dos amigos, do mecânico, do vizinho, da atendente do serviço de emergência ou do motorista do Lyft. 

Como propagando do iPhone “A Hora do Desespero” seria espetacular, mostrando as mil e uma funções do aparelho e como ele seria útil numa situação difícil:  a bateria parece não ter fim nos 84 minutos da trama; ele funciona no meio da floresta onde o sinal dificilmente pegaria uma única vez, Amy atende dezenas de ligações, faz outras tantas, envia mensagens, se atualiza nas notícias do tiroteio , chama um carro de aplicativo, fuça no Instagram do filho e aciona a Siri com uma rapidez inacreditável.

O fato da trama se restringir a apenas um cenário não a exime em nada da falta de qualidade, pois a história já é um thriller psicológico em sua essência, era só desenvolvê-lo pra cativar a audiência e fazê-la roer as unhas. Há vários longas que tem como pano de fundo apenas uma locação e que conseguem ser brutais: “Por Um Fio”, “Culpa, “Enterrado Vivo” e o ótimo nacional “Animal Cordial” são apenas alguns exemplos.

Naomi Watts está numa performance poderosa, ela constrói uma protagonista agoniada com sua vida atual, sofredora por não aceitar a morte do marido, e totalmente impotente pra tirar o filho adolescente da depressão. Ela está no meio do nada, com o pé torcido, num desafio contra sua mente para não surtar e contra o seu corpo para não desmaiar de exaustão. A atriz é   indiscutivelmente talentosa, mas aqui ela não consegue salvar o filme do fiasco.  Watts já viveu personagens memoráveis e teve indicações a prêmios importantes (“O Chamado”, “21 Gramas”, “Cidade dos Sonhos”, “O Impossível”), mas ultimamente  parece estar sendo  escalada para seguidos projetos ruins, rezemos para que ela não trilhe o mesmo rumo que Nicolas Cage, cuja carreira brilhante desandou não se sabe onde e só muito tempo depois parece dar algum sinal de recuperação.

Tiroteios escolares tem sido frequentes no mundo todo e nos EUA parecem ter virado um problema crônico, e como tal é essencial que seja debatido. Bullying, a facilidade pra adquirir armas de todos os  calibres, pessoas que se sentem feridas e que querem ferir outras pra se vingar: motivos que são usados como “justificativas” para tamanha violência contra pessoas inocentes - um problema gravíssimo e com raízes complexas que merece ser tratado a fundo e não com a superficialidade com que foi pincelado no fraco roteiro de Chris Sparling (“Enterrado Vivo”). A trama é cansativa e o desfecho é no mínimo estranho, seria impossível de acontecer no contexto mostrado, o que irrita quem assiste. Amy está desesperada pra chegar até a escola do filho e nós desesperados pra que o filme chegue ao seu final.


Nem Vale Ver!



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