“Como Seria Se...?” explora a impermanência da vida | 2022
NOTA 7.5
Por Karina Massud @cinemassud
A vida é feita de escolhas, pra cada escolha há uma consequência, boa ou má, e arrepender-se é inútil, já que o tempo não volta mais. “Como Seria Se...?” se apresenta como uma comédia romântica, mas vai além das tramas corriqueiras do gênero, vai fundo em alguns questionamentos sobre o peso das nossas escolhas e sobre os fantasmas do arrependimento.
Natalie (Lili Reinhart, da série “Riverdale”) é uma jovem que acabou de se formar e está cheia de planos, ir pra Los Angeles com sua melhor amiga, arrumar emprego na agência da renomada desenhista que ela idolatra e ter uma carreira de sucesso. Só que, na noite da formatura, ao invés de festejar, ela se sente enjoada e desconfia que pode estar grávida do seu melhor amigo, Gabe. Ela faz então o teste de gravidez, e a partir daí a trama divide-se em dois multiversos: em um Natalie está grávida e tudo muda, e no outro o teste deu negativo e ela segue seus planos de vida perfeita.
A diretora Wanuri Kahiu (que dirigiu o ótimo “Rafiki”) tem um olhar sensível sobre ambas as realidades, ela não julga ou toma partido por nenhuma delas, ela alinhava as dois caminhos narrativos sem pieguices ou absurdos impossíveis de acontecer na vida real. Para cada escolha uma renúncia e também um bônus. De um lado a Natalie que tem dificuldades com a maternidade e resistência em assumir o amor que sente pelo pai de sua filha, mas que encontra no amor incondicional pela bebê a sua fonte de inspiração pra vida e pra arte. Do outro lado a Natalie que parece ter encontrado o príncipe encantado, mas que se sente infeliz com a concorrência selvagem no trabalho e que batalha 24 horas pra ser uma profissional de destaque.
As alegrias e os tombos são inevitáveis em ambas as histórias, só que Natalie não percebe isso com o olhar do espectador, que as assiste de fora. A protagonista valoriza o que não aconteceu, pois o que não foi vivido fica no plano do ideal, onde tudo é perfeito como num conto de fadas. Assim como muita gente, ela foca no passado e no “e se...”, o que é uma grande bobagem, já que vivemos no agora e nada mais.
A premissa de linhas do tempo alternativas não é revolucionária e já foi um grande sucesso em longas como “De Repente 30”, “Efeito Borboleta” ou a trilogia “De Volta Para O Futuro”. No entanto, não basta colocar multiversos no roteiro pra acertar, é preciso também ter competência no elenco e direção, e “Como Seria Se...?” passou no desafio. A direção de arte é igualmente boa e se sobressai ao usar os cartoons fofos da protagonista pra ilustrar as suas duas trajetórias e a passagem do tempo. Um charme visual certeiro.
“Como Seria Se...?” pode ser traduzido por um dos preceitos da filosofia budista que prega a necessidade da compreensão de que tudo na vida é inconstante, e que tudo passa. Nada é eterno, nem os momentos bons, nem os momentos maus, a única certeza é a impermanência. Confie nela.
Vale Ver!
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