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'Men: Faces do Medo' : polêmico e controverso, novo filme da A24 vai mexer com sua cabeça I 2022

NOTA 7.5

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Em recente entrevista para o New York Times, o diretor e roteirista Alex Garland quando questionado sobre o caráter alegórico de seus filmes, respondeu, sem titubear; “com o passar dos anos, eu venho conscientemente colocando mais e mais coisas nas mãos dos espectadores. Existe outro elemento nisso, devo ser honesto, que é o de tornar o espectador meu cúmplice”. Garland, na mesma entrevista, se define como um roteirista que dirige por conveniência, não escondendo o desconforto ao acumular a função de diretor. Talvez, e isso é mera especulação, esse sentimento explique a trajetória do cineasta atrás das câmeras quando iniciou com o aclamado “Ex-Machina”, ficção cientifica existencialista e extremamente intimista. Já em “Aniquilação” ele expande a experiência, ao menos do ponto de vista visual quando troca a ambientação interna e claustrofóbica pela imensidão de uma floresta, além de entregar uma narrativa mais subjetiva e rica em simbologia. Se comparados aos trabalhos anteriores, “Men: Faces do Medo” tem similaridades temáticas e estéticas, ao mesmo tempo que restringe a obra a menores espaços e elenco menos numeroso, além de resgatar o caráter mais investigativo da psiquê humana e manter a crítica social em primeiro plano, abraçando de vez a subjetividade em alegorias nada convencionais.  

Na trama acompanhamos Harper (Jessie Buckley), que após passar por uma tragédia pessoal busca refúgio no interior da Inglaterra. Assombrada pelas memórias de um passado recente, ela encontra nos campos verdes de um pequeno vilarejo um caminho para a cura interior, até que a paz é interrompida quando um sujeito misterioso começa a observá-la.

É notável como em poucos minutos de rodagem a premissa é apresentada de forma bastante direta. Na primeira cena nos é mostrado um flashback que dá a entender a origem do trauma da protagonista e logo em seguida, já no presente, uma sequência de sua chegada ao local onde os acontecimentos se desenrolam. Nesse momento o simbolismo se faz presente quando ao se referir à uma maçã colhida por Harper, o anfitrião em tom jocoso menciona o fruto proibido, remetendo ao pecado original e a culpa feminina. Trauma e culpa; eis a problemática. A partir dela, o papel do masculino e do patriarcado serão meros adereços, e por mais que eles carreguem no título do longa esse peso, o foco está inteiramente na figura de Harper.

O feminino sempre foi tema central nos projetos de Garland, o que pode soar pretensioso e até controverso uma vez que se trata de um homem que não se limita a falar 'sobre', se arrisca a falar 'de' feminismo. A propriedade com que dita a narrativa é no mínimo arriscada, uma vez que o arquétipo da vítima se sobressai a da luta por libertação, colocando o papel da mulher em risco de parecer unidimensional, não dando conta da complexidade necessária.

Visualmente o filme é um espetáculo. Os planos abertos em lindas composições com predominância do verde nas tomadas externas e o vermelho nas internas. As atuações também são impecáveis, com destaque para Jessie Buckley, que em menos de um ano depois de ser indicada ao Oscar, dá mais uma demonstração de seu futuro promissor.

“Men: Faces do Medo” tem tido recepção bastante diversa, fazendo dele um potencial ponto de partida para discussão, o que é sempre positivo. No entanto, a estrutura trabalhada em arquétipos deixa o conteúdo menos interpretativo e mais provocativo, podendo gerar sentimentos dos mais diversos, exceto indiferença.


Vale Ver!




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