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'Pinóquio' : Disney entrega (mais um) live-action apressado e sem vida | 2022

NOTA 5.0

Não mexe no meu desenho!!!

Por Maurício Ferraz @outrocinéfilo 

Brincadeiras à parte, o lançamento de um live-action pela Disney carrega consigo um incômodo peso sentimental a quem cresceu com essas histórias e, portanto, é descaracterizado antes mesmo de chegar ao seu público-alvo. É que apesar dos motivos que levam a uma atualização dessas fábulas já reconhecidas, seja pela decisão mercadológica de abocanhar a atenção de uma nova geração ou puramente dar uma vividez ao que antes era colorido de forma mais artesanal, alguns filmes se provaram como as (mesmas) novas roupagens para personagens antigos, sem arriscar acrescentar algo tão inovador às narrativas. Por outro lado, precisamos concordar que a madeira de Pinóquio já aparentava seu desgaste natural a esta altura.

É inegável que o viés de comparação vem desestabilizando as estruturas de todos estes filmes que a Disney trouxe à público nos últimos anos: 'O Rei Leão', de 2019, não carrega os mesmos bigodes do Mufasa noventista; 'Dumbo', apesar de inventivo e quase gótico nas mãos de Tim Burton, não tem o mesmo carisma do orelhudo animado e 'Pinóquio', dirigido por Robert Zemeckis (responsável por 'De Volta para o Futuro' e 'Forrest Gump', pra começar), acaba sem alma como retalho de madeira deixado num canto qualquer. Advogo, porém, que a adaptação seja permissiva. O material base, neste caso o conto de Carlo Collodi e mais tarde o filme, servem apenas como ponto de partida para que se crie algo novo para uma geração que demanda outros temas que não aqueles do período da Guerra.

O filme, alheio à comparação, precisa funcionar por si, claro. O mais irônico, embora inevitável, é a visível falta de entendimento do que tinham em mãos: uma das fábulas mais bonitas que o estúdio já havia produzido. Refazer 'Pinóquio' é enfrentar a baleia de frente. Outra vez. Um trabalho duro.

A história do boneco e o condicionamento de sua humanidade é a mesma da animação de 1940. O diretor mantém os pés no chão para adaptar o material base com atenção, linha a linha por um certo tempo, receoso, por óbvio, para agradar os fãs (já adultos) avessos a mudanças. Enquanto o pedido honesto de Geppetto é atendido e os lapsos de “menino real” se expande pelos “nós” do corpo do boneco, a emoção de vê-lo pela primeira vez garante um certo frescor à experiência e a sensação contida de: “agora vai” – não foi.

Não foi porque a narrativa se mantém apenas na superfície. A falta de tato ao lidar com a história transforma a poesia fabulosa em um mero aconchego que faísca tímido em tela, escondida por alívios cômicos desnecessários (e modernos); o grilo guardião ou mesmo Geppetto, interpretado por Tom Hanks, se debruçam sobre os caminhos mais fáceis e pouco se destacam, enquanto Pinóquio, de uma expressão lavada pelo enriquecimento gráfico e menos atento ao argumento boneco/menino, acrescenta pouco (ou quase nada) para que este filme seja memorável. Tudo bem que Pinóquio ainda não era um menino de verdade, como sonhava acordado em compasso com Geppetto, mas lhe faltou alma, aquela que, mesmo boneco e feito em linhas precisas e coloridas, já tivera. O texto termina e eu sequer vou falar sobre os efeitos visuais que apenas confirmam um filme quase inacabado e que abandona as farpas aparentes de um desleixo completo.

'Pinóquio' pode até divertir, reunir sua legião de novos fãs mirins, mas assim que introduzidos a esse mundo fantástico e amadeirado, sugiro a porta ao filme de 1940, um complemento que com certeza será mais duradouro (na memória), como o mogno em relação a este projeto mal envernizado para parecer novo. 


Nem Vale Ver!




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