'Amsterdam' : David O Russell comanda elenco de estrelas em comédia investigativa | 2022
NOTA 6.5
Por Maurício Ferraz @outrocinéfilo
Em qualquer trama investigativa, o foco é a investigação. Parece óbvio, não é. Pois para o bom andamento dessas narrativas, é preciso, essencialmente, dois grandes artifícios de manipulação: a junção das pistas e/ou motivos e a resolução do mistério. É por isso que o mestre Alfred Hitchcock que popularizou o whodunnit no Cinema, termo designado desde a literatura para histórias interessadas em descobrir o “quem” e seus “porquês” (daí o “Who has done it?”), dividia seus filmes em dois grandes blocos de um mesmo conjunto: num deles, geralmente nos dois primeiros terços do filme, Hitchcock desenvolvia o suspense e entregava todas as pistas necessárias que os investigadores em tela, em conluio com os investigadores amadores fora dela, precisavam para a descoberta no grand finale – parece simples. Guardadas as proporções ao mestre, é melhor que estas duas partes andem sempre em compasso no gênero ou teremos um filme de desenvolvimento morno com uma grande revelação ou (ainda pior) um grande suspense com uma revelação morna. O segredo, que poderia ser vendido como as 7 ou 8 ‘regras’ para o sucesso, está na obtenção perfeita desse balanço.
Introduzido esse primeiro insight, 'Amsterdam', novo filme dirigido por David O. Russell (de 'Trapaça' e 'O Lado Bom da Vida'), se estrutura em uma investigação incomum e cômica que engaja enquanto é desenvolvida, mas deixa despencar a temperatura na hora da revelação, quando rufariam os tambores para uma aparição pouco convincente em qualquer bom exemplar do gênero. Desde o letreiro inicial, Russel propõe contar uma história baseada (livremente) em eventos reais, quando um médico ex-militar e um advogado investigam uma conspiração milionária para a destituição do governo americano no período entre guerras. Como havia feito em 'Trapaça', o diretor costura as linhas do tempo e encomenda personagens pouco confiáveis a primeira vista, como se pudesse despistar ou criar distrações em meio ao mistério em curso.
Apesar do tom cômico que tem em Christian Bale (e seu olho de vidro) um porta voz, algumas inserções atrapalhadas do diretor, como o simbolismo pelas artes de Valeria (Robbie) aqui ou um enquadramento ‘diferente’ ali, confirmam uma direção contida e pouco inspirada. A usual ‘estranheza’ por que é reconhecido, inclusive, dos diálogos menos convencionais, funciona e toma de volta o ritmo que por vezes se perde numa história confusa, fruto de uma montagem despreocupada. É como se torcesse para que o emaranhado de nós (cegos) que propõe pudesse causar dificuldade para ser desatado.
É irônico pensar, porém, em como um elenco de estrelas carrega uma fiscalização adicional e desnecessária. Há uma clara noção de subaproveitar talentos, da qual isento Russel de culpa que escalou cada um deles como easter eggs falantes e atribuo apenas ao que não fazia parte do filme e foi demandado pela expectativa do público. Russel não precisava de mais essa preocupação pra tirar o foco da trama ao deixar que cada novo personagem, Robert De Niro, Rami Malek ou Taylor Swift, pudesse ganhar sua importância indevida.
A boa notícia está no trio Christian Bale, Margot Robbie e John David Washington que demonstra carisma e química suficiente para trazer 'Amsterdam' pra perto numa história divertida de amizade, romance e companheirismo.
Preciso dizer que como quem controla marionetes escondido detrás da câmera, David O Russell entrega, ainda assim, um filme divertido e uma estrutura corajosa de investigação para uma ideia bem humorada. O problema, como aconteceu em 'Trapaça', está na resolução desinteressante somada ao ritmo cansativo que faz com que o resto perca sua força e o filme (como 'Trapaça') afunde antes mesmo de chegar à Amsterdam. Ali pelo Canal da Mancha.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
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