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Festival do Rio: 'Belchior - Apenas um Coração Selvagem' | 2022

NOTA 9.5

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou apenas, Belchior. Um sujeito como nós, como ele se descreveu na célebre canção ‘fotografia 3x4’ ... e por mais que sua existência e obra tenha tido imensa riqueza, literária e filosófica, poucos expressavam de forma tão crua e direta sentimentos que iam da desilusão ao pleno gozo pela vida e tudo que ela representa. Homem complexo e controverso, fruto do seu tempo e de muitos outros. Através da poesia e da música revisitou o antigo, referenciou e reverenciou o presente e dialogou (e dialoga) com o futuro, mesmo hoje, anos após sua morte.

Ainda que dirigido pela dupla de realizadores Camilo Cavalcanti e Natália Dias, pode-se dizer que o documentário é de autoria do próprio Belchior, já que durante toda a rodagem acompanhamos sua trajetória pelas inúmeras entrevistas e recortes de jornal e revistas, desenvolvendo assim uma narrativa autobiográfica contada por palavras ditas e cantadas, sobretudo cantadas. A única exceção são alguns trechos recitados de maneira magistral pelo incrível Silvero Pereira.

O formato é um tanto restritivo aos não iniciados na carreira de Belchior, uma vez que não estabelece um início meio e fim tradicional, nem se aprofunda no caráter íntimo de sua vida pessoal. Embora tenha sim algumas passagens com esse teor, nele não está o foco. Esse aspecto só se faz presente quando conectado à proposta, que é basicamente um mergulho na arte de Belchior e em grande medida seu impacto cultural ao longo das décadas, da ascensão a um questionável declínio, chegando ao controverso período de reclusão que se encerrou em 30 de abril de 2017, quando partiu e se tornou imortal, status destinado a ele desde muito cedo.

Belchior se foi quando a nova geração o redescobria. Ainda em 2017, o grito de ‘Fora Temer! Volta Belchior!’ ecoou e seu nome circulou pelo Brasil novamente em tom de protesto e esperança em meio a desencantos que refletiam um ‘passado-presente’ bastante similar ao que viveu na juventude e verbalizou em “Como Nossos Pais”, canção símbolo de uma alma atormentada pelo fracasso geracional fruto de uma sociedade ‘pós’ anos 60, que mesmo com muita luta tinha pouco o que celebrar. Eles, assim como nós, cultuaram velhos deuses, reciclaram utopias e esperaram por um futuro prometido que nunca chegou... Belchior dizia que era preciso abandonar velhos sonhos e criar novos, e apesar do clichê contido na frase a seguir, esse grande cearense continua atual, pois hoje vivemos essencialmente o mesmo dilema, andando em círculos e repetindo erros. Definitivamente essa roupa velha colorida não nos serve e mais do que nunca, precisamos amar, mudar as coisas e rejuvenescer. 

Abaixo o sistema! Viva Belchior!


Super Vale Ver!



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