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Festival do Rio : 'Os Piores' | 2022

NOTA 8.5

Por Eduardo Machado @históriadecinema

Fazer cinema, contar uma história, atuar em um filme... tudo isso é aparentemente agradável, mas ninguém quer contar a você o quanto o processo pode ser doloroso. Esse processo é árduo, porque os envolvidos sempre deixam algo de si por seus personagens. “Os Piores”, filme francês vencedor da mostra “Um Certain Regard” no Festival de Cannes, está justamente interessado em explorar que não há cinema de graça. Pelo sucesso nos demais festivais pelo mundo, o longa era um dos mais aguardados no Festival do Rio em 2022 e cumpriu com as expectativas.

O longa conta os bastidores da produção de um filme dirigido por Gabriel (Johan Heldenbergh). Buscando autenticidade e máximo impacto emocional, ele decide contratar atores não profissionais e faz extensas audições e testes nos subúrbios de Boulogne-Sur-Mer, uma das regiões mais pobres da França. Assim, são escalados quatro adolescentes da região para estrelar o filme e, pela vida difícil que levam, eles mesmos não conseguem entender o motivo de terem sido escolhidos, afinal, sempre foram vistos como “os piores”.

A dupla de diretoras e roteiristas, Romane Gueret e Lise Akoka, conseguiu criar um filme contemplativo e tocante, entregando questionamentos oportunos sobre o que é fazer cinema, enquanto nos mergulha no universo de seus personagens. É um filme dentro de um filme, que, portanto, utiliza o recurso da metalinguagem para, inclusive, avançar sobre a linha entre ficção e documentário, criando uma experiência no mínimo diferente. Akoka e Gueret conseguem mostrar ao espectador como o cinema pode ser complexo, mas libertador, quando todos os componentes certos se misturam bem.

Um dos pontos altos do filme é o elenco jovem, com grandes louros que devem ser direcionados ao mais novo do grupo, Timeo Mahaut, que interpreta Ryan - o menino que nunca chora. Seu desempenho é tão emocionante que é daqueles capazes de manter o espectador em uma espécie de transe por não acreditar que uma criança é capaz de tais feitos. Outro destaque é Mallory Wanecque, que consegue dar várias camadas à sua personagem, Lily.

Profundamente perspicaz, “Os Piores” consegue ser emocionante ainda que com os pés no chão, fazendo perguntas sobre o papel do cinema e nos deixando tirar as nossas próprias conclusões. Romane Gueret e Lise Akoka entregam um cinema de oportunidades, escassas na França, raríssimas no Brasil. Se o cinema pode oferecer alguma coisa, que valorizemos isso como uma conquista. 


Vale Ver!






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