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Festival do Rio : 'Os Banshees de Inisherin' | 2022

NOTA 9.5

Everything was fine yesterday

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Todos os anos, no último trimestre, começa a janela de lançamentos mais comum para aqueles postulantes às grandes premiações. É evidente que há exceções, mas é o período de maior movimento nesse sentido pela proximidade das datas e a maior facilidade com que se articulam as campanhas. Nesse contexto, é frequente uma obra que, chegando sem muito aviso, geralmente de baixo orçamento, acaba se revelando a surpresa da temporada. Foi assim com os recentes ‘Meu Pai’, ‘Moonlight’ e ‘No Ritmo do Coração’, só para citar alguns exemplos. Embora ainda seja cedo afirmar, ‘Os Banshees de Inisherin’ é, sem dúvida, candidato a “vencedor silencioso” da noite. Escrito e dirigido por Martin McDonagh, mesmo diretor do incrível ‘Três Anúncios para um Crime’, o longa conta com atuações magistrais, uma fotografia das mais belas do ano, o roteiro já premiado em Veneza e uma premissa tão interessante quanto desafiadora.

Na remota ilha de Inisherin, no extremo norte da Irlanda, Pádraic (Colin Farell) é pego de surpresa quando seu melhor amigo Colm (Brendan Gleeson) repentinamente decide romper a amizade. Com a ajuda da irmã Siobhán (Kerry Condon) e o jovem Dominic (Barry Keoghan), Pádraic vai em busca de reconciliação com o agora ex-amigo, recorrendo a todos os meios possíveis, e se preciso, até as últimas consequências.

A trama começa em ritmo desacelerado, quase descompromissado, porém esse direcionamento inicial se faz necessário para lidar com seu maior desafio que é a criação de vínculo com figuras nem sempre tão fáceis de serem apreciadas, afinal, como se afeiçoar a uma ‘desamizade’? Entretanto, o roteiro faz dessa barreira um trunfo quando insere na motivação dos envolvidos uma discussão moral e filosófica, proporcionando múltiplas leituras, entre elas, relações de afeto, traumas, abuso, dependência emocional e numa linha mais alegórica, a saúde mental. 

Ambientado em uma ilha isolada, as locações proporcionam belos planos abertos e de estabelecimento, além de enquadramentos internos e externos que comunicam com a narrativa, plantando pistas fora de foco ou localizadas em cena de maneira estratégica. O filme tem um leve recuo no terceiro ato, uma vez que se apropria dos símbolos e abusa da metalinguagem, complicando o que até ali era de fácil assimilação. Não que isso seja um problema significativo, mas salta aos olhos por destoar bastante dos dois primeiros atos. A cereja do bolo está na atuação de Colin Farell, premiado em Veneza e impecável no papel.

Desde muito tempo lidamos com a comédia e a tragédia de formas bem distintas, e partindo dessa ideia, classificar ‘Os Banshees de Inisherin’ é tão desafiador quanto lidar com as reflexões propostas. Talvez um drama tragicômico se encaixe bem pois a custo de lágrimas e risadas chegamos aos créditos finais, e como toda obra-prima, é a partir deles que o filme começa.


Super Vale Ver!



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