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Festival do Rio: 'Bem Vinda, Violeta!' | 2022

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

Um processo criativo fora do convencional, um ambiente inóspito, gélido e uma mulher numa trajetória  insana de autoconhecimento (ou seria autodestruição?). Componentes iniciais que são como um coração pulsante dentro da trama de 'Bem Vinda, Violeta!', uma coprodução Brasil/Argentina, inspirado no romance 'Cordilheira', de Daniel Galera e com a direção de Fernando Fraiha, que está na mostra competitiva do Festival do Rio esse ano. 


Em 'Bem Vinda, Violeta!' Débora Falabella vive Ana, uma escritora que, ansiosa em busca de inspiração para escrever "Violeta", seu novo romance, ingressa em um famoso laboratório literário na Cordilheira dos Andes. Nessa viagem, ela se envolve com Holden (Darío Grandinetti), um homem com cara de poucos amigos que é criador de um método no qual os escritores abandonam suas próprias vidas para viverem como seus personagens. O líder desse grupo cativa a escritora e Ana mergulha em uma intensa investigação artística, vivendo, segundo o método orienta, como sua personagem Violeta - até que aquela vida dentro de sua história começa a sair totalmente do controle.  

A aposta do cineasta e produtor Fernando Fraiha ('La Vingança' -2017), cujo trabalho em 'Bem Vinda, Violeta!' resultou num Spirit Award na categoria Longa-Metragem de Ficção na 25ª edição do Brooklyn Film Festival, flerta com o cinema de gênero com muita propriedade e com plena consciência do que está fazendo. Muito diferente da obra da qual o longa se inspira, Fraiha cria um clima claustrofóbico através de closes e diversas sequências que transparecem o estado alterado de sua protagonista, enquanto conduz a público nessa metamorfose de loucura pela qual Ana atravessa. O clima, a trilha, além de personagens que também insinuam um instinto kamikaze, só fazem aumentar a tensão a despeito de onde partiria uma possível nova investida sinistra, que tem um único fim - se tornar o melhor aluno no curso do professor Holden. 

Débora Falabella, que estrela seu primeiro filme falando em espanhol, entrega uma performance na medida entre a loucura e a sanidade. 'Bem Vinda, Violeta!' trilha um caminho provocativo e inquieto nas linhas de um suspense psicológico, e tem o mérito de chamar o espectador para dentro da trama, sempre esperando pelo próximo ato, que não raras vezes surpreende. Como tantos exemplos que já vimos na dramaturgia, o projeto de Fraiha nos leva aos cômodos mais profundos e escuros da mente humana e deixa uma pergunta desconfortante: vale tudo em nome da arte?







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