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'Morte Morte Morte' : o horror da juventude pós-moderna | 2022

NOTA 8.5

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Um grupo de jovens em seus vinte e poucos anos se reúnem em uma mansão remota. O clima de festa se transforma em conflito quando uma visitante indesejada chega ao local. Na mesma noite uma tempestade os impede de sair, e para aliviar as tensões decidem jogar MORTE MORTE MORTE, uma brincadeira aparentemente inofensiva de assassino e detetive. Todavia, o que antes era apenas um jogo, termina em tragédia.

O longa é de produção A24, porém, diferente dos trabalhos mais recentes, 'Morte Morte Morte' é menos ambicioso na proposta e pouco afeito a invencionices visuais. O diferencial está na problemática uma vez que o projeto se faz valer de um “Horror Geracional” não apenas como ponto de partida, mas como espinha dorsal de todo e qualquer conflito. O pensamento e cultura ligada a geração Z estão presentes como tópico para discussão com a mesma efemeridade com que são debatidas fora das telas. Entretanto, isso não é um demérito e nem mesmo uma crítica ao filme, muito pelo contrário, a superficialidade dos debates, as frases prontas, a preocupação exacerbada com a própria autoimagem, colocam o ‘ser jovem’ como principal objeto de tensão e medo na trama.

Para além da inventividade do roteiro, o elenco também é destaque. Em especial duas atrizes que chamaram atenção em 2021. Rachel Sennott, do excelente ‘Shiva Baby’, e Maria Bakalova, uma das maiores surpresas do último ano e que ganhou diversas indicações pelo desempenho em ‘Borat 2’. A naturalidade com que transitam entre horror, drama e comédia é primordial, já que a mistura de gêneros pode gerar desequilíbrio e certo estranhamento, risco presente principalmente no desfecho, onde o diretor opta por uma saída tragicômica que beira a sátira.

Como a sinopse deixa claro, se trata de um “whodunnit”, ou, “who has done it” (quem fez isso?). Um recurso narrativo típico da ficção, com origens na literatura e popularizado pela escritora Agatha Christie. Em entrevista nos anos 60, Hitchcock alerta que o recurso suscita uma curiosidade destituída de emoção, sendo esse sentimento o ingrediente primordial para o bom suspense. Por fim, é louvável a tentativa de 'Morte Morte Morte' em subverter essa lógica ao não focar apenas no “quem”, mas também trabalhando no “como” e mais enfaticamente no “por que”. Contudo, uma estrutura tradicional inserida em um contexto pós-moderno pode ocasionar maior dificuldade quanto ao público-alvo, afinal, a parcela mais madura tende a não se conectar e os mais jovens acharem ultrapassada, tamanha a velocidade com que os discursos mudam. Por essas e por outras é altamente recomendável aprecia-lo ‘apenas’ como um bom mistério e nada mais.


Vale Ver!



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