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'A Escola do Bem e do Mal' questiona arquétipos da humanidade | 2022

NOTA 7.0

Por Karina Massud @cinemassud 

Todo mundo tem um lado bom, honesto, empático e iluminado, mas também um lado sombrio, vingativo e invejoso, alguns mais, outros menos.  Exceto nos contos de fadas, onde existe o bem absoluto, encarnado nos  príncipes encantados, fadas madrinhas, princesas, e o mal nos vilões, bruxas, monstros e demais seres encantados. Mas ao que tudo indica, nem nas histórias mágicas essa dicotomia existe mais. Seguindo a tendência da migração de best-sellers infantojuvenis para as telonas, chega ao catálogo da Netflix “A Escola do Bem e do Mal”,  longa baseado na série de livros homônima de Soman Chainani.

Sophie e Agatha são melhores amigas que cresceram juntas no vilarejo de Gavaldon, e que juntas se unem para fugir do bullying e maus tratos que sofrem diariamente; Sophie de sua madrasta como uma espécie de Gata Borralheira, e Agatha do povo que rotula ela e sua mãe de bruxas. O sonho dourado de Sophie é escapar de tudo e ir para a Escola do Bem e do Mal ter aulas de como ser uma princesa encantada - ela  até consegue ser transportada pra lá, sendo seguida por sua amiga. Mas, para espanto de ambas, Sophie, a menina cheia de laços em tons pastéis que desenha vestidos é deixada na Escola do Mal; enquanto que Agatha, a menina que se veste com terno cinza e colhe ervas medicinais, é deixada na Escola do Bem. Segundo elas, há algo de errado nisso, e para que Sophie vá pro lado “do bem”, ela tem que ganhar um beijo de amor verdadeiro.

Todos os personagens, assim como nós, tem suas inseguranças e fragilidades - um lado bom e um mau - o que vai aflorar só depende de qual sementinha será regada, simples assim. “A Escola do Bem e do Mal” mostra isso de forma lúdica e eficiente em familiarizar o público com sua história e conectá-lo ao seu universo. O  ótimo elenco compensa em parte o desenvolvimento raso dos personagens que tem um grande potencial dramático inexplorado:  Laurence Fishburne, Michelle Yeoh, Charlize Theron, Kerry Washington e Cate Blanchett (a narradora da trama) são alguns dos nomes que estrelam a produção, juntamente com as protagonistas Sofia Wylie e Sophia Anne Caruso.

O figurino e penteados são uma preciosidade rococó: vestidos coloridos do Bem com muitos detalhes bem cortados, babados, bordados, rendas e joias chamativas de princesa conservadora. Já do lado “do Mal” temos peças geométricas em tons escuros, rendas góticas e cabelos altos, pois o mal é moderno e ousado, segundo reza a tradição boba. 

O filme, dirigido e corroteirizado por Paul Feig, tem um visual lindo, com muita pirotecnia e extravagâncias ao longo das 2h30min, que são excessivas principalmente se levarmos em conta o público alvo dos livros - crianças e adolescentes que mal tem paciência para vídeos instantâneos do Tik Tok. Enxugar tramas não tem sido prioridade em produções atuais de vários gêneros, levando o espectador a pensar mil vezes antes de assisti-las. A trilha sonora é ágil, com músicas de Billie Eilish, uma ótima versão de “Toxic” da Britney Spears e um clássico de Bach para combinar com a atmosfera mágica.

A história subverte e questiona o conceito do bem e do mal nos personagens fictícios, que são versões potencializadas das pessoas de carne e osso, além de também questionar estereótipos arraigados no imaginário coletivo: o  bem precisa sempre se vestir de cor de rosa e ter um rostinho bonito? E o mal precisa ser feio e usar preto? Assim como no filme, quem sabe um dia o maniqueísmo que rotula as pessoas acabe - o fato é que essa desconstrução tem que começar em algum lugar, nem que seja na ficção. Apesar de alguns tropeços, “A Escola do Bem e do Mal” consegue essa proeza e é um bom entretenimento pra todas as idades.


Vale Ver!




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