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'Babilônia': filme narra a barulhenta transição do cinema mudo para o falado | 2023

NOTA 9.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

“O cinema é sempre puro quando se cala” - Lucien Wahl

O cinema tem uma história recente. Tendo pouco mais de um século de existência, é a arte mais jovem e, por consequência, ainda produz muito debate a respeito de sua trajetória até os dias de hoje. A análise sob o ponto de vista histórico pode nos levar a diversos marcos, no entanto, nenhum é mais debatido do que as “mortes do cinema”. Com a era dos streamings se consolidando e um cenário pós pandemia ainda com impactos significativos para a indústria, o assunto retornou com toda força. Segundo os teóricos André Gaudreault e Philippe Marion, o cinema morreu oito vezes, sendo uma das mais representativas, a transição entre o cinema mudo e o falado. ‘Babilônia’ trata desse período e, ao mesmo tempo que representa com brilhantismo a energia caótica característica daqueles tempos, aborda um tema antigo e reabre para debate um velho e conhecido problema ainda longe de ser superado.

Na trama acompanhamos Manny Torres (Diego Calva) e Nellie La Roy (Margot Robbie), dois jovens que se conhecem pelo acaso e se mostram o extremo oposto um do outro, porém, compartilham do mesmo sonho de fazer parte do maior espetáculo da terra: o cinema. Ao conseguirem um lugar ao sol, ela, como atriz e ele, por trás das câmeras, se veem em meio ao mais conturbado período da indústria cinematográfica até então, os levando aos melhores e piores momentos de suas vidas.

Damien Chazelle é um cineasta cujo reconhecimento veio cedo e, para alguns da crítica, cedo demais. Mais jovem diretor a ganhar um Oscar, sua trajetória não é épica e a filmografia ainda conta com poucos filmes, dos quais apenas ‘Whiplash’ (2014) possui certa consistência quanto a opinião popular. Já ‘La La Land’ (2016) e ‘O Primeiro Homem’ (2018) carregam consigo o peso do “ame ou odeie”. "Babilônia" faz parte deste controverso segundo grupo que coleciona fãs e “haters” quase na mesma proporção. Todavia, é louvável que independente da repercussão de suas obras, Chazelle continua falando sobre o que ama e o fascina. Aqui, assim como seu longa anterior, retrata com primazia um dos mais importantes eventos históricos do século XX.

Através dos olhos de Manny somos conduzidos não só pelos fatos, mas também pelos mitos que até hoje estão nas páginas de revistas assim como no imaginário de Hollywood. A veracidade desses acontecimentos é de importância secundária, de modo que em ‘Babilônia’ as extravagâncias e exageros fazem parte do show. O espetáculo está em toda parte, em grande medida graças ao incrível design de produção que mergulha de cabeça nos anos 20 e 30. Junte isso ao ritmo frenético e atmosfera caótica e temos 3h de entretenimento recompensadoras, contudo, que exigem fôlego. Algumas sequências são esticadas demais e pelo menos uma delas é descartável. Apesar do primor estético, o ponto alto sem dúvida está nas atuações. Destaque para Margot Robbie, provando ser uma das melhores atrizes da atual geração, e para Brad Pitt, este sem mais o que provar a ninguém.

É evidente que ao falarmos de outros tempos, estamos também discutindo a atualidade. As “mortes do cinema” marcaram mudanças profundas na nossa relação com o audiovisual e como nossos hábitos de consumo se relacionam com essas mudanças. Essa é uma discussão que está na ordem do dia. Cabe a nós a reflexão sobre o papel do público nesse processo, afinal, exaltar a experiência e enfatizar a importância da sala de cinema é também garantir a subsistência do cinema enquanto arte. Sem isso, todos saímos perdendo.





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