'A Última Festa' : longa aborda as agruras do fim da adolescência em uma festa de formatura | 2023
NOTA 7.0
Por Eduardo Machado @históriadecinema
Ah se pudéssemos sempre viver com a intensidade dos jovens...talvez não aguentássemos chegar aos 40. Fato é que saber expressar no cinema todo esse viço juvenil não é tão simples, tão mais em uma comédia, em que a possibilidade de se cair em clichês baratos e risíveis é das mais razoáveis. Em “A Última Festa”, o diretor Matheus Souza segue por esse caminho tortuoso, no qual tropeça algumas vezes, mas, no fim, consegue um resultado satisfatório.
O filme gira em torno de um quarteto de amigos que está se formando no ensino médio e se reúne na festa de formatura. Nessa festa, Nathan (Christian Malheiros), o menino negro e gay precisa renovar a sua autoestima, Nina (Marina Moschen) termina um namoro e decide que quer ter novas experiencias, Marina (Giulia Gayoso) decide perder a virgindade com o namorado naquela noite e Bianca (Thalita Meneghim) precisa resolver sua crise existencial após dedicar seus últimos meses ao vestibular. Ufa! É muita coisa para acontecer em apenas uma festa de formatura, não? Só mesmo jovens para terem esse senso de urgência.
O próprio título do longa expõe essa necessidade juvenil de pensar que o mundo vai acabar. Para adultos, parece ridículo acreditar que algo que acontece aos seus 17/18 anos seja classificado como a última vez de alguma coisa. A última festa? Ora, haverá milhares de festas ainda, os meninos nem sequer entraram na universidade! Mas que falta de empatia eu teria se, aqui com meus 30 e poucos anos, não me lembrasse que um dia eu chorei quando me formei no ensino médio. Não apenas por ter concluído uma etapa, mas também por, assim como aqueles meninos, pensar que aquela era a última festa.
Algumas situações no filme de fato beiram o ridículo, como o desespero de Nina para transar com o namorado durante a festa de formatura, bem como o encontro de Bianca com Caio (Victor Lamoglia) em uma ambulância. São situações, aliadas à falta de experiência de alguns atores, que podem fazer com que o espectador pense estar assistindo a um episódio da telessérie Malhação, mas logo o texto nos pega de maneira inteligente e consegue conectar com a juventude atual.
Apesar de alguns exageros, o filme passa a sensação boa de que os adolescentes atuais talvez sejam melhores do que nós fomos quando tínhamos a idade deles. Ver que o preconceito ainda existe, mas que ele é melhor driblado por uma juventude que cresceu aprendendo a conviver de maneira mais harmônica com a diferença, que tem menos medo de se arriscar ao diferente, que vive de maneira mais plena a sua sexualidade e a desmistifica e que têm pais mais preocupados em ouvir as suas questões. Que possamos comemorar isso em mais festas por aí. Não se preocupem, meninos, haverá muitas festas para ir.
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