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'Emily' : longa faz um retrato sensível e ousado da autora de “O Morro dos Ventos Uivantes” | 2022

NOTA 9.0

Por Karina Massud @cinemassud 

“O Morro dos Ventos Uivantes”, romance sobre preconceito social e uma paixão proibida, é um clássico da literatura mundial escrito pela britânica Emily Brontë. Esse foi o único livro lançado pela escritora que morreu aos 30 anos de tuberculose; até hoje pouco se sabe sobre sua vida, pois ela viveu boa parte dela reclusa e introvertida. O filme “Emily” é uma cinebiografia  da autora que imagina detalhes da sua vida e carreira enigmáticas durante a era vitoriana, período em que ela escreveu sua obra. ”O Morro dos Ventos Uivantes” foi lançado em 1847 sob o pseudônimo masculino de Ellis Bell, e devido ao seu conteúdo denso, com violência, muita paixão e sexo, foi muito incompreendido e criticado na época, e quem o leu realmente acreditava que havia sido escrito por um homem.

Depois da morte da mãe, Emily Brontë vive um luto eterno num quotidiano pacato com sua família, pai, duas irmãs e um irmão, entre afazeres domésticos, missa, estudos e caminhadas pelo campo. Até que um dia chega William Weightman, o novo assistente de seu pai que, lindo e carismático, balança com todas as estruturas da casa, e principalmente com o coração de Emily.

Emily é uma rebelde numa época em que as moças tinham que aprender sobre prendas domésticas para arrumar um bom marido. Ela só queria ser reconhecida por suas poesias e por seu romance, queria ter liberdade de pensamento e de ir e vir, o que fez dela uma feminista num tempo em que nem se falava de mulheres empoderadas. Por todas essas ousadias, Emily era chamada de “estranha”, fato que, se por um lado a entristecia, por outro a orgulhava, pois ela não queria ser como as demais donzelas casadoiras.

A atriz experiente, e agora diretora e roteirista estreante, Frances O’Connor, nos traz a jornada edificante e sofrida de Emily Brontë com um olhar delicado e ao mesmo tempo moderno, mostrando as variações de humor da personagem que hoje seriam claramente diagnosticadas como depressão ou bipolaridade, mas que na época eram transtornos desconhecidos. Tais emoções oscilantes são lindamente interpretadas pela magnífica atriz Emma Mackey (da série “Sex Education”), que vive a escritora   destemida e à frente do seu tempo, mas também frágil e uma romântica incurável.

Como muito pouco é conhecido da vida da escritora, a diretora toma liberdades criativas bem provocativas, não só em relação à independência da personagem, que é obvio ter existido, mas também no que diz respeito à forma como ela enfrenta suas alegrias e frustrações. O’ Connor imagina que elementos de “O Morro dos Ventos Uivantes” tenham sido inspirados na vida de sua autora, o que torna o longa ainda mais rico em conteúdo e excitante pra quem o assiste.

A trama de “Emily” é muito sensual, com closes nos rostos marcantes de Emily e William, salientando o amor e desejo crescentes que vivem. Uma paixão que se alimenta não só do prazer físico, mas principalmente do intelectual, das longas conversas filosóficas e da prática da língua francesa. Visualmente o longa é lindo, com belas tomadas abertas das paisagens da região de Yorkshire, entre dias iluminados e tempestades inesperadas que espelham o vai e vem dos tormentos da protagonista. Estamos diante de um grande filme, surpreendente e à altura da  extraordinária escritora e mulher que foi Emily Brontë. 






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