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'Gato de Botas 2: O Último Pedido' : DreamWorks nivela o jogo com a Disney e faz animação de alto nível | 2022

NOTA 10

Kitty! A Morte está atrás de mim!

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

A tendência nas animações agora é o apelo aos traços cartunescos, voltados aos exageros estéticos dos animes no lugar da animação "padrão" ocidental tradicional mais ao estilo 'Toy Story' (1995). 'Gato de Botas 2: O Último Pedido' segue essa linha, assim como 'Red: Crescer é Uma Fera' (Disney/Pixar) e 'Os Caras Malvados' (DreamWorks) o fizeram em 2022 com expressões quase caricatas e personagens que dialogavam diretamente com o público. O novo filme do Gato, contudo, tem algo grandioso e gracioso que foi justamente o que faltou aos dois filmes citados ainda agora - e esse algo não é uma megalomania surreal, nem um final estarrecedor e nem a salvação de um reino, mas sim algo extremamente oposto a essas ideias e incrivelmente íntimo: a salvação de si mesmo.


O segundo filme do Gato de Botas é comandado por Joel Crawford, veterano da DreamWorks que dirigiu 'Os Croods 2: Uma Nova Era' (2021) e foi storyboarder de vários títulos do estúdio (entre eles a trilogia 'Kung Fu Panda'). Crawford sabe como semear emoções minúsculas em sua maneira de conduzir que depois germinam e se tornam árvores emocionais enormes, com ramificações que permitem que o público encontre empatia e aprendizado independente de para qual lado estiverem olhando. Claro, existe antagonismo e vilania no filme, mas os arcos tanto do Gato quanto dos coadjuvantes são riquíssimos em ternura e evolução de personagens. O próprio Gato é um exemplo perfeito de como se fazer uma personalidade arrogante e presunçosa se tornar amorosa e empática de forma natural e orgânica dentro da narrativa. As decisões criativas são todas bem práticas e as participações especiais de outras figuras bem queridas do Shrekverso (se é que esse termo existe) são bem inseridas na trama e não soam meros fanservices gratuitos.

Lá pelas tantas o filme se revela, em um auto retrospecto, uma obra de apreciação da vida e compreensão acerca da própria finitude. A mensagem de gratidão pelas coisas simples da vida é igualmente simples, porém forte e incisiva. É um filme divertidíssimo, lindamente sensível e com a dose certa de abestalhamentos que arrancam risos de todos os públicos, com gracejos fáceis de piadas físicas para as crianças e um louvável não-tédio com referências clássicas aos adultos que as acompanham. As crianças, inclusive, puxaram as palmas ao final da sessão. O elenco de dublagem também é excelente, com Alexandre Moreno como o Gato em um de seus melhores trabalhos para quem assistir em português (e um corpo de vozes composto por veteranos e artistas globais que, curiosamente, não causaram um estranhamento incômodo dublando) e Wagner Moura como Lobo na versão original em inglês.

Tendo em vista que o novo filme é infinitamente superior ao primeiro (lançado em 2011) sendo um primor de técnica em um roteiro redondinho e bem amarrado, posso afirmar com tranquilidade que isso tudo eleva 'Gato de Botas 2: O Último Pedido' ao patamar das sequências que superam o original, tais como 'X-Men 2', 'Shrek 2', 'Top Gun: Maverick' e 'Homem-Aranha 2' - além de colocar facilmente os últimos cinco filmes da Pixar no chinelo; ou melhor, na bota.




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