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'Bem-vinda a Quixeramobim' : Halder Gomes une humor e denúncia em filme estrelado por Monique Alfradique | 2022

NOTA 8.0 

Por Rogério Machado 

O cearense Halder Gomes  vem construído uma espécie de universo único em torno de seus projetos. Assim como um dia Mazzaropi representou algo como uma marca registrada em toda a sua trajetória, evocando o homem simples e caipira através de um humor jocoso e tido até como pastelão, o ator, produtor e distribuidor ajudou a consolidar o cinema nacional nos anos 1950. Halder não atuou na grande maioria de seus filmes - exceto por algumas poucas aparições - mas nesse lugar ele usa um amuleto, Edmilson Filho, um conterrâneo do cineasta que se firma como a cara e a alma de suas histórias, que representam o nordeste com toda sua prosódia, seu colorido e a agilidade muito característica no humor feito por essas bandas. 


Na história Monique Alfradique é Aimée, uma mulher de trinta e poucos anos e herdeira de um empresário milionário envolvido numa lista de casos de corrupção. Influencer e com muitos seguidores, o mundo dessa patricinha vai ao chão quando os bens de sua família  são bloqueados pela Receita Federal. Forçada pela primeira vez a ficar sem as riquezas do pai para se sustentar e bancar seus luxos, Aimée terá que correr atrás de fazer algum dinheiro com a última propriedade da família que resta: uma fazenda em ruínas em Quixeramobim, no interior do Ceará. Na tentativa de vender a propriedade, mas com vergonha da nova realidade, Aimée divulgará para seus seguidores  que irá tirar um "período sabático", por um ano. 

Ao ter que fingir que tudo está bem nas redes sociais, enquanto todo está ruindo em volta, a personagem de Alfradique levanta a velha questão do quanto o mundo de aparências e a mentira é a tônica que rege o ambiente virtual. Claro que essa é só uma das reflexões que Halder provoca em seu público através do costumeiro humor regional, a comédia ainda chama atenção para a ambição de homens poderosos que se aproveitam de gente simples para lucrar. Ao inserir o já conhecido dilema da seca no sertão e misturar isso com o desvio de um rio para a construção de uma cervejaria de nome Cool Bear, - nome americano que também gera material de piada para o cineasta -, Halder vai além da comédia e chama a atenção para um eterno problema que assola o nordeste: a falta da chuva e o descaso do poder público para amenizar os efeitos dessa ausência. 

Halder, ainda que lance mão de temas sociais, não perde a chance de empregar  seu habitual timing de comédia, amparado pelas parcerias já conhecidas com Edmilson Filho, Falcão, Haroldo Guimarães e outros talentos regionais que imprimem uma marca única a esse novo projeto. A trilha sonora é outro show a parte: o clássico 'Xodó', do Rei do Baião Luiz Gonzaga, a versão em inglês de 'Eu Não Sou Cachorro Não', de Waldick Soriano, eternizada por Falcão, além de outras muitas pérolas do cancioneiro pop nordestino, que dão o devido acabamento às cenas, reforçando a comicidade proposta em mais um projeto repleto de deboche. 

'Bem-vinda a Quixeramobim' não economiza na linguagem e no humor, mas guarda uma ternura que só o amor pelas nossas origens traz. 








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